Uma Jornada de Amor e Dedicação, por Duarte Síopa
19 de Março de 2024, Dia do Pai
Duarte Síopa, apresentador e Pai. Homem de paixões, sendo as suas duas grandes paixões o seu filho Diogo e a televisão.
Duarte acolheu o Diogo com apenas 3 anos, nunca lhe escondendo nada sobre o seu passado. Não tinha noção do quão pobre era a sua família, mas recusa-se a pensar sobre o assunto.
Na altura que fez a adoção do Diogo não tinha consciência do bem que lhe estava a fazer, mas sentia que aquela criança precisava de apoio, de uma família, de um lar e muito AMOR. Depois de o ter levado para sua casa, começou então a nascer incondicionalmente o sentimento de Pai, de proteção e de afeto, estando juntos nesta jornada há 29 anos.
O processo de adoção esteve 2 anos no tribunal de menores e 1 ano no tribunal de família. Foram 3 anos de espera para que a primeira adoção monoparental se concretizasse em Portugal.
Salienta que o importante na adoção das crianças institucionalizadas e de rua é tira-las desse meio e dar-lhes condições, educação e uma família com muito AMOR e AFETO para que estas possam ter tudo o que uma criança dentro de um agregado familiar “normal” tem.
Hoje é um dos apresentadores mais respeitados e conceituados da nossa atualidade, muito se devendo à sua humildade, honestidade, sinceridade, transparência e pelo bom coração que tem.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, Duarte abre o seu coração e fala-nos de atos de AMOR e do seu filho Diogo.
O que é ser Pai?
Ser Pai é um AMOR espontâneo que está dentro de nós e que nos leva a proteger a nossa cria de uma forma inexplicável.
Como descreve o seu filho Diogo?
O meu filho é um menino com 32 anos, dócil, muito carente e também muito educado. Como ele cresceu sabendo a verdade, fez dele o homem maravilhoso em que se tornou e uma pessoa imensamente grata à vida.
Como é que o Diogo chegou à sua vida?
Foi na altura que comecei a trabalhar na RTP e para o Raul Durão. Foi ele que me alertou que estavam crianças em risco na rua e eu fui ver o que se passava e conheci o Diogo. Acabei por o trazer comigo para casa e contar aos meus pais o que tinha feito, começando desde aí o processo de adoção.
Como foi o primeiro abraço, beijo e toque?
Não me recordo muito bem porque ele era uma criança muito fechada quando o conheci e não me falava. Entretanto, quando um dia fui comprar roupa com ele e não me respondia a nada, disse-lhe que ia embora e perguntei-lhe se queria vir comigo e então ele respondeu que sim e aí começou a nossa vida. Percebi que nascemos um para o outro. Curiosamente o Diogo nasceu no mesmo dia de anos da minha Mãe e ela costuma dizer que ele nasceu para ficar na nossa família.
De que forma é que a chegada do Diogo mudou a sua vida?
Qualquer criança muda a vida dos pais e como eu não pensava em casar, nem ser Pai, a chegada dele alterou muito a minha vida. Na altura como estava na RTP, cheguei a estar um ano em casa a tratar dele. Deixei de sair à noite porque ele era uma criança que chorava imenso e não o podia deixar sozinho. Levava-o sempre comigo para todo o lado e ele sentia que eu era o seu porto de abrigo e quem o protegia de tudo e todos. A minha vida ficou sempre muito condicionada ao Diogo, sempre o quis perto de mim e embora já não viva comigo continua a ser uma pessoa que protejo e irei proteger para o resto da minha vida.
Como é que a sua família reagiu à chegada do Diogo?
Decidi chamar os meus Pais a casa e o meu Pai quando viu o Diogo pensou que eu tivesse engravidado alguém e depois de eu lhe ter contado o que se passou, começamos a pensar como iriamos adotar o Diogo e gerir esta situação toda. Neste momento o Diogo é mais filho dos meus Pais do que eu, talvez porque eu aos 12 anos fui para um colégio, aos 18 anos compraram-me uma casa e deram-me um carro, tendo ido viver para Lisboa. Isso fez com que houvesse um afastamento da minha família e talvez por esse motivo hoje eu seja um homem mais carente que o Diogo. E sim o meu filho teve mais AMOR de família do que eu, o que se torna curioso!
Que receios teve e ainda tem na educação do seu filho?
Isso é a pior parte, os receios de drogas, más companhias, tabaco e tudo tem que ser muito bem controlado. O Diogo frequentou o Colégio Militar e esteve vários anos lá, o que lhe fez muito bem. Embora tivesse um regime rígido, ele gostava de lá andar. Chegou ao colégio para liderar, era muito feliz, mimado e independente. Ainda hoje é assim.
Alguma vez teve receio que o Diogo procurasse a sua família biológica?
Nunca conheci a família dele e ele também nunca teve curiosidade em conhece-la, o que de facto é estranho. Cheguei a dizer-lhe que era e é um direito dele, mas ele diz que não se lembra de família dele e que nasceu na minha casa sendo a minha família a dele.
Considera que o facto de ser um dos primeiros a avançar com uma adoção monoparental, foi um ato heroico?
Não, de forma alguma. Qualquer pessoa faria aquilo que eu fiz na altura. Eu vi aquela criança com aqueles olhos lindos, a passar necessidades. Não foi um ato de coragem, mas sim um ato de AMOR, porque foi o que o meu coração me mandou fazer e foi o melhor que fiz na minha vida.
Considera que a existência de uma referência feminina é importante na educação de uma criança?
Sempre defendi isso, mas acho que mais vale as crianças serem adotadas por um Pai ou uma Mãe ou dois Pais ou duas Mães do que estarem numa instituição e o importante é que exista AMOR e que as pessoas sejam felizes. No meu caso, ele sentiu a falta de uma imagem feminina, e eu fui busca-la à minha Mãe e ele quando está ao pé dela trata-a por Mamã, o que é muito bom.
Que estereótipos e preconceitos desafiam, nos dias de hoje, numa família momoparental?
Muitos preconceitos, inclusivé em casais do mesmo sexo. Normalmente as crianças arranjam formas de se protegerem, mas por vezes são muito cruéis. Por acaso, eu só quis tornar publico a minha adoção quando o Diogo tinha 11 anos e porque a Luísa Jardim na altura me disse para dar a cara no intuito de ajudar outras famílias. No entanto, não senti nada de preconceito, o que senti na altura e ainda hoje sinto foi um carinho enorme das pessoas e sou grato ao publico que me acarinha e à minha família. Por vezes mais vale uma adoção monoparental de que uma separação mal feita.
Hoje o Diogo tem 32 anos. Como é a vossa relação?
Continua a ser uma relação muito aberta, transparente, de respeito e de muito AMOR. Isso é o mais importante.
O AMOR parental tem género e orientação?
Não, AMOR é AMOR.
O AMOR vence o preconceito?
Vence, claro. Costumo dizer todos os dias no programa da manhã que sou pelo AMOR. Gosto de ver pessoas a viverem o AMOR na sua plenitude. É o mais importante e o que tiramos de melhor na vida. O AMOR é o maior e melhor sentimento do mundo.
Duarte Síopa, Apresentador
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