Trans é #AMOR e a TLoveT #Nasce, por Giovana Tavares
29 de Janeiro de 2024, Dia Nacional da Visibilidade Trans
Giovanna Tavares, transexual, é empreendedora, empresária e influencer. Giovanna criou a primeira linha de roupa interior para mulheres transgénero.
A empresária, de nacionalidade brasileira, tinha 14 anos quando se assumiu como mulher transgénero.
Tudo começou por uma necessidade da própria, que não encontrava roupa interior adequada à sua fisionomia. Essa procura constante tinha impacto na sua saúde mental e autoconfiança. Assim nasceu a TLoveT, batizada a partir de “trans é amor”. As peças são feitas em neoprene, um material que permite um maior conforto e respiração da zona genital.
Oito anos depois, chegou a Portugal à procura de melhores condições de vida e de se lançar no empreendedorismo, com o objetivo de melhorar a vida de pessoas como ela. É por isso que apresenta as primeiras cuecas portuguesas pensadas na anatomia transgénero.
O seu projeto foi apresentado e registado na Moda Lisboa, em 2023.
Giovanna, nesta entrevista ao Love with Pepper, abre o seu coração e conta, como sendo uma mulher trans, ultrapassa as adversidades que a vida lhe colocou. Fala também de como é viver com amor.
Qual a sua essência como mulher trans e brasileira?
A minha essência é a persistência, mostrar aquilo que sou, a vontade de me destacar perante as outras pessoas e de trazer sempre algo de positivo para elas.
Qual o porquê de viver em Portugal?
Portugal é um país lindo e que me acolheu bastante bem. Para além disso tem uma cultura maravilhosa e uma gastronomia riquíssima. É tudo bom aqui!
A que se deve o seu sucesso como empresária?
Deve-se ao facto de trazer um produto inovador e de qualidade.
A TLOVET é a primeira marca de lingerie dedicada a pessoas transexuais. Como nasceu e o porquê desta marca?
Nasceu por uma necessidade, porque era difícil encontrar lingerie que se ajustasse ao meu corpo trans e uma amiga minha desafiou-me a criar algo. Então comecei a criar uma peça pensada para o corpo trans e assim nasce a TLOVET.
O que é ser mulher trans?
Uma mulher trans é uma mulher que nasce num corpo masculino, mas na sua identidade e no seu interior é mulher. Ora, o nosso corpo tem que estar ligado à nossa mente para sermos felizes.
Quando é que começou a sentir que não era homem?
A partir dos meus 5 anos, apercebi-me que era diferente.
Como se sentia antes da transição?
Sentia que não fazia parte desse corpo e que ele não era meu, mas não entendia o porquê. Só aos meus 13 anos é que tive contacto com uma mulher trans e foi aí que realmente entendi o que se passava.
Chegou alguma vez a confundir homossexualidade com transexualidade?
Sim, cheguei a considerar que podia ser gay, mas nunca encaixei no estereótipo gay e isso era muito confuso, dentro da minha mente. Foi através de uma amiga trans que realmente entendi a minha identidade como pessoa trans.
Quando é que se apercebeu que podia mudar de género?
Foi por volta dos 17,18 anos que me apercebi que poderia iniciar este processo.
Com que idade começou a transição?
Aos 16 anos comecei a tomar hormonas e a fazer algumas cirurgias plásticas, mas foi aos 19 anos que iniciei a minha transição.
A nível emocional, sente que sofreu uma mudança com a transição? Quais são as diferenças entre o antes e o depois?
A nível psicológico não me sentia feliz porque estava no corpo errado. A minha mente nunca mudou, o que mudou foi o meu corpo. E agora, com a idade, estou com muita mais maturidade e feliz com a minha transição.
Como foi a reação da sua família e amigos?
Na altura eu vivia com a minha avó e foi um período muito conturbado, acabando por ser expulsa de casa. Então procurei a minha mãe, ela ajudou-me e apoiou-me sempre em tudo. O que sou hoje devo-lhe a ela!
Qual foi o momento mais difícil durante a transição?
Foi quando tinha 16 anos, já era trans e fui apedrejada por colegas de escola. Sem dúvida que foi o momento mais doloroso e marcante para mim.
Chegou a fazer a cirurgia de redesignação sexual?
Apesar de ter vontade de a fazer, não a fiz. Com os anos a passar e com a idade vim a perceber realmente a minha identidade e hoje sinto que não tenho a necessidade de fazer a redesignação sexual, aceito-me como sou. Sou feliz!
Alguma vez se arrependeu da transição?
Nunca. Estou certa daquilo que escolhi viver e do que sou.
Ser transexual afetou a sua orientação sexual?
A minha orientação sexual sempre foi voltada para homens. Então sempre fui trans- hétero, nunca afetou.
Qual é a maior dificuldade no dia a dia como mulher transexual?
Na minha opinião, a maior dificuldade é não nos validarei como seres humanos, que nos retiram humanidade. Nós não temos direito a necessidades básicas como emprego, direito a andar na rua sem sofrermos com preconceito da sociedade. Nós, pessoas trans fomos colocadas num mundo à parte. O patriarcado nos tirou tudo menos o prazer, pois é na prostituição que conseguimos encontrar um meio de subsistência e os que nos excluem e que nos maltratam na luz do dia, são os mesmos que nos procuram à noite na beira da estrada.
Sente-se uma mulher segura a nível sexual?
Sim, sabendo aquilo que quero e também me sinto muito realizada.
Sexualmente realizada. Vida Feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?
Concordo plenamente, porque o sexo deixa-me com energia e é como se renovasse a minha autoestima todos os dias. Acho que quando uma mulher tem uma vida sexual mais ativa ela sente-se melhor e é mais produtiva em todos os aspetos.
O amor vence o preconceito?
Vence, mas por vezes é difícil.
Giovanna Tavares, Empresária, Maquilhadora
Instagram: @giovanna _tavaresoficial / @tlovetconcept
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