Sónia Vieira e a força do sonho da Maternidade
Foto: Dois às 10
Sónia Vieira, uma jovem mulher de 42 anos, casada, que nunca deixou de lutar e acreditar no seu maior sonho: ser Mãe.
Aos 29 anos, casou-se com o grande amor da sua vida (o seu marido) Carlos, ambos, ambicionavam ser pais. Dois anos antes de casarem não fizeram nada para contrariar essa possibilidade. Porém, este desejo não se realizou.
Decidiram, então, procurar ajuda médica quando regressaram da Lua de Mel e depois de realizarem muitos exames foi-lhes informado que a causa do problema estava associada à infertilidade masculina.
Nessa altura, o médico disse que o caso da Sónia e do Carlos seria indicado para PMA (Procriação Medicamente Assistida). Ao receberem esta notícia, ficaram abalados, a partir daí, iniciou a sua batalha. O processo seguiu das consultas de planeamento familiar, para o Hospital de Cascais para serem efetuados mais exames, foram quase 3 anos de constantes adiamentos de consultas e exames até que por fim lhes foi sugerido continuar o processo num hospital que tivesse um centro de PMA, na altura as listas de espera para a primeira consulta nos Hospitais mais próximos (respetivamente Santa Maria e a Maternidade Dr. Alfredo da Costa) era de dois a três anos e foi-nos sugerido transferir o nosso processo para o Hospital Pêro da Covilhã, onde as listas de espera para a primeira consulta, eram bem mais céleres. E foi para lá que seguiram, tiveram a primeira consulta poucos meses depois dessa informação, mas a aventura estava só a começar, chegados lá foi-lhes dito que as listas de espera para a realização dos tratamentos ía deixá-los para último, pois segundo o médico, eram muito jovens (a Sónia prestes a fazer 33 anos e o Carlos 34) que tinham de dar prioridade a casais no limiar da idade permitida pelo SNS (40 anos) e a casos graves de doenças que pudessem comprometer a fertilidade como as doenças oncológicas e Endometriose por exemplo, e então que a Sónia e o Carlos teriam de esperar por tempo indeterminado e que não garantiam que algum dia viessem a ser chamados devido às longas listas de espera que cada vez aumentavam mais. Dalí saíram arrasados, a única esperança era recorrer a centros privados e foi então que tomaram uma decisão, emigrar. Tiveram que começar a vida do zero, emigraram para terem estabilidade financeira e poderem recorrer a este tipo de tratamentos.
Este ano faz 13 anos que procuraram ajuda e 15 desde que começaram a tentar ter um filho.
Apesar deste longo caminho, esta mulher criou a Mãe2bee, um projeto que visa apoiar pessoas sofrem de infertilidade, porque sentiu que existiam muitos casais a passarem pelo mesmo e não eram ouvidos nem compreendidos. Nesta página tudo se fala mais abertamente, a missão é ajudar, informar, e dar voz a quem está a passar ou passou por processos de infertilidade.
Na entrevista ao Love with Pepper, Sónia descreveu o seu percurso de vida e referiu que nunca deixou de acreditar e lutar pelo seu sonho: ser Mãe e conceber esse amor.
Para si o que é a infertilidade?
Eu diria que é um desafio e que temos que estar preparados física e psicologicamente para ele. É Preciso ter capacidade de resiliência para enfrentar todo o processo, pois é muito desafiante e, simultaneamente, ingrato, porque nem sempre corre bem.
Como se chega a um diagnóstico de infertilidade?
Em 2008, eu e meu marido sentimos o desejo de sermos pais, tentámos naturalmente e durante dois anos não conseguimos. Então, depois decidimos procurar ajuda médica. Nesse momento, começou a nossa luta. Depois de muitos exames foi diagnosticado infertilidade masculina e, no nosso caso, seria impossível ter uma gravidez espontânea, portanto tínhamos de recorrer à PMA (Procriação Medicamente Assistida).
Enquanto mulher e enquanto casal quantos tratamentos fez e que tipo de tratamentos fez?
Fizemos uma inseminação artificial que não resultou, posteriormente FIV com recurso a ICSI (Micro Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides) quatro transferências embrionárias. Engravidei duas vezes mas acabei por sofrer dois abortos espontâneos, temos agora que começar tudo do zero pois não temos mais embriões.
De que forma é que os tratamentos de fertilidade afetam a sexualidade?
Afeta bastante, no entanto nós mulheres somos mais verbais, o que faz com que se sofra menos, enquanto que os homens se isolam mais. Quando se tem uma vida normal, a sexualidade é livre, sentimos desejo de amar e ser amados, corre tudo bem. No momento em que recebemos o diagnóstico passamos a ter a perceção de tais barreiras e obstáculos, inicialmente propõe-se o coito programado, afetando bastante a intimidade do casal.
Como se reage quando os tratamentos não funcionam?
É desgastante, quer a nível psicológico, quer físico, financeiro e depois destes anos todos de luta não é nada fácil, mas temos que seguir em frente, tentar apaziguar as mágoas, tristeza e seguir em frente recomeçando e acreditando que na próxima vez vai correr bem, que vamos conseguir!
Apesar destes tratamentos todos que não funcionaram, alguma vez conseguiu engravidar?
Sim, duas vezes, mas infelizmente abortei espontâneamente. A última transferência embrionária que fiz foi uma sensação de vitória e felicidade tremendas, nunca tinha chegado tão longe, estávamos radiantes e convictos que era a nossa vez, mas acabei por perder o bebé.
Como se faz o luto de um filho que tanto se deseja e que acaba por perder?
É uma dor que nos vai acompanhar para o resto da nossa vida e ficará guardada dentro do nosso coração. Temos que seguir em frente e tentar viver o melhor possível, tentar levar tudo de uma forma mais leve, mas é inevitável que nos deparemos com crianças da idade que os nossosilhos teriam se tudo tivesse corrido bem e imaginarmos como seriam, se eram meninos ou meninas ou menino e menina, doí na alma. É um luto eterno.
É fácil uma relação sobreviver a esta situação toda?
Não é nada fácil, tem que existir muito amor, muita verdade, muita honestidade e, por vezes, tem que se procurar ajuda psicológica. No nosso caso, recorremos a esta ajuda após termos perdido
o último bebé.
Hoje em dia, ainda faz tratamentos de fertilização?
Neste momento não estou a fazer tratamentos porque temos de juntar novamente recursos financeiros para avançar para o próximo plano, retornaremos logo que possível.
Já pensou alguma vez na adoção?
Claro que sim. Sempre tivemos o desejo de adotar uma ou várias crianças, mesmo antes de recebermos o diagnóstico de infertilidade, sonhávamos em ter vários filhos adotados e biológicos, gostamos de famílias grandes, mas os processos de adoção em Portugal são tão ou mais desgastantes, complexos e morosos, quanto os de tratamentos de fertilidade. Também ponderamos inclusive a gestação de substituição. Que em Portugal se aguarda por legislação, caso demore muito mais, só mesmo juntando entre 20 a 50 mil euros e procurando uma agência estrangeira, como na Ucrânia e Estados Unidos da América por exemplo, embora nem a adoção, nem a gestação de substituição sejam sinónimo que o desejo de conceber um filho no nosso ventre desapareça.
Como se lida e gere a pressão social sobre a questão da maternidade?
A nossa sociedade é muito intrusiva, todos gostam de opinar sobre a vida alheia e quando se casa, as pessoas associam o casamento à constituição de uma família e aí começa a pressão. Por vezes, as perguntas que nos fazem são desagradáveis porque não sabem o que estamos a passar, mas acreditamos que não o fazem por maldade. Quando isso acontece, tentamos desvalorizar. Mas as pessoas deviam ter consciência que podem magoar e muito e evitar invadir a intimidade de um casal dando-lhes o espaço e a liberdade de serem eles a escolher se querem ou não falar sobre isso. No meio de tudo o que já nos foi dito e perguntado o que mais me custa e detesto é que me/nos olhem com pena. pois eu nunca me senti uma coitadinha, muito pelo contrário, sempre fui e sou uma guerreira, que sempre lutou pelos seus sonhos e nunca desistiu deles apesar dos obstáculos e dificuldades.
Apesar deste problema alguma vez desistiu de ser Mãe?
Não, porque o desejo permanece, é um desejo muito forte e não sai de dentro de mim. Eu acredito que já sou mãe, a partir do momento em que comecei a gerar os meus filhos no coração. Nunca seria plenamente feliz se desistisse do meu maior sonho. Só tenho que ter a capacidade de aguentar este processo todo até o concretizar.
Como é viver um problema de infertilidade em Portugal?
É muito complicado, pois existem várias condicionantes tanto nos centros públicos como nos privados, como na própria sensibilização da sociedade e entidades patronais, e também no acesso à PMA, fora outras condicionantes como, as condições financeiras, os profissionais que nos acompanham que têm de ter conhecimento, preparação, dedicação e sensibilidade para lidar com estes casos, capacidade tecnológica também, leis que facilitem a investigação principalmente genética antes dos 40 anos, o nosso sistema nacional de saúde que não está preparado para acompanhar tantos casos, cada vez surgem mais e muitos ficam pelo caminho, ora por limite de tentativas, ora pela idade, ora por listas de espera inimagináveis e intermináveis, que impedem ajudar todos os que precisam, ora por incapacidade de armazenamento de gâmetas , etc. Há muito a melhorar e quero acreditar que vai.
Sexualmente realizada. Vida feliz. O lema do Love with Pepper, concorda?
Claro que sim. Porque quando nos sentimos realizados nas várias facetas da nossa vida, somos mais felizes por consequência.
Está comprovado que o nosso bem-estar psicológico e físico depende da nossa saúde funcional e sexualidade prazerosa.
O Sexo é bom?
Sim, mas só quando é livre e acompanhado de amor. É um dos maiores prazeres da vida e deve ser vivido com verdade e entrega total, sempre respeitando os gostos e limites um do outro, além de uma partilha de energia deve ser acima de tudo uma conexão de almas e uma fusão de sentimentos maravilhosos e cúmplices.
Sónia Vieira, Criadora do Projeto Mãe2bee no Instagram.
Comments