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Sérgio Alexandre Lopes, Humor e Sexo sem Tabus




Sérgio Alexandre Lopes, 40 anos, sofreu uma lesão medular aos 21 anos vendo a sua vida mudar para sempre.


Atualmente faz stand up comedy tendo nos dias de hoje uma vida independente necessitando de uma assistente pessoal.


Ativista, lutando pelos direitos das pessoas com condições semelhantes à sua, fez com que há cerca de 10 anos entrasse no mundo do associativismo, onde exerce a função de dirigente associativo do Centro de Vida Independente, estando também ligado aos movimentos de pessoas com deficiência.


Confessa que nada é impossível com esta condição física e que o amor existe.


Julga ser um homem atrevido, embora o romantismo não seja o seu forte.


O humor e a boa disposição andam sempre de mão dada com o Sérgio.


Nesta entrevista ao Love with Pepper abre o seu coração e mostra que apesar de ter uma deficiência física esta não o impossibilita de ser feliz.


Como é viver o amor nesta condição?

Numa fase inicial é sempre muito complicado, principalmente sendo um problema adquirido e não de nascença. Na minha situação demorou algum tempo a redescobrir-me em alguns aspetos como nas relações, sexualidade, entre outros. Demorou quase dez anos até me envolver com alguém.



Acredita no amor verdadeiro?

Sim, desde que existam duas pessoas compatíveis.


Como é que tudo aconteceu?

Aconteceu porque o teto da casa da minha avó, que estava a ser restaurado, desabou antes do que era previsto caindo em cima de mim, fraturando-me a coluna e deixando-me com uma lesão medular.


Quando tomou conhecimento do seu estado clínico o que lhe veio à cabeça?

Nunca sei responder qual é que foi o dia em que eu assumi isso. Acho que foi todo um processo. À medida que iam passando os dias, os meses eu ia tomando consciência . Em Alcoitão também, à medida que ia vendo que outras pessoas iam tendo alta, mas saíam de lá quase na mesma. Acho que foi aí que fui assumindo que qualquer dia seria a minha vez.


Sente alguma frustração?

Tenho momentos. Altos e baixos, como qualquer um de nós.


Como encarou e como lida com esta realidade ao final de 20 anos?

Hoje em dia não faço muitas comparações entre o antes e o depois, contudo não se apagam as memórias. Tento lidar naturalmente com a presença da minha cadeira de rodas e tudo aquilo que

faço está baseado nas minhas limitações.



O retorno à vida sexual como foi? Sente prazer sexual?

Tudo tem a ver com a pessoa que está connosco. É um reaprender. Sente-se algum medo por ser homem, mas correu bem e senti prazer.


Onde tem mais prazer?

O prazer para mim funciona mais no campo visual. É o que me provoca uma excitação. Quanto ao toque, é na zona dos mamilos que tenho mais sensibilidade e onde se encontra o meu prazer. Mas o simples facto da minha companheira sentir prazer já é um prazer adquirido e o próprio envolvimento que possa existir.


Como foi a primeira abordagem após esta nova condição? E quais os obstáculos que encontrou em relação a isso?

Partindo do princípio que o sexo não é só penetração não é esse o foco principal. Embora sentisse uma grande dificuldade em perceber que existia um tipo de medicação para ter uma ereção e depois outra das dificuldades é encontrar locais com acessibilidade para pessoas com deficiência poder estar.


Como foi a sua primeira vez pós acidente?

Foi um tanto pouco estranho, no entanto antes do acidente foi muito melhor e muito mais simples! (risos)


O seu desejo sexual manteve-se ou alterou pós acidente?

Manteve-se, embora numa fase inicial as prioridades eram outras, a recuperação.


Enquanto casal, como abordaram o assunto em relação à sua sexualidade?

Depois de ter superado todos os medos e receios tornou-se tudo mais fácil, embora não fosse muito tema de conversa. Quando os casais são compatíveis corre tudo bem.


Qual foi o seu maior ato de amor?

O maior ato de amor que tive e que fiz foi quando tive o acidente, quando pedi à minha namorada na altura para seguir com a vida dela, pois eu seria um “fardo” para ela e ninguém merecia viver naquela condição. Ela sentiu que aquele não era o momento e ainda estivemos dois anos juntos. No final desse tempo, se calhar devido à pressão social e falta de informação, a relação acabou e ela seguiu o seu caminho. Não levei a mal, pois temos que ter a nossa liberdade de decisão e não estar com alguém por estar.



Alguma vez foi rejeitado a nível amoroso devido à sua condição física?

Que me tenha apercebido não, mas tenho a noção que as pessoas com deficiência também se escondem um pouco.


Abordou esse tema com um profissional?

Sim. Na primeira vez que estive internado em Alcoitão e no segundo internamento tive uma consulta de sexualidade.


Algum profissional de saúde abordou o tema sexualidade consigo?

Em Alcoitão tivemos uma palestra sobre sexualidade e no final tomei a iniciativa de saber mais e daí começaram a existir as tais consultas.


O que é que uma mulher precisa de ter para ser uma companheira ideal para si?

A meu ver é preciso ter compatibilidade e abdicar de algumas coisas, moldando-nos um ao outro. Mas para mim uma mulher tem que ter mente aberta a relações e estar ciente da minha realidade.


Acha que a nossa sociedade feminina está preparada para lidar com a diferença?

A nossa sociedade, de um modo geral, não está preparada para lidar com a diferença pois existe um medo e desconhecimento. Para isso temos que divulgar e acreditar que um dia a nossa sociedade esteja melhor preparada para lidar com a diferença.


Como se protege/lida e gere os olhares preconceituosos que possam surgir?

Apenas não ligo.



Acha que hoje é uma pessoa mais forte, resiliente e preparada para a vida?

Sendo eu portador de uma deficiência desde os 21 anos, situação que me fez mudar os meus objetivos, sim. Estando envolvido em causas com pessoas com deficiência e sabendo lidar com as nossas dificuldades, faz com que seja, sem dúvida, um homem mais resiliente.


Considera que ainda existem tabus em relação a quem mantém relacionamentos amorosos que têm défices motores?

Sim, existe muito tabu, ignorância, falta de informação e pesquisa.


Acha que o humor/ boa disposição ajuda a encarar melhor a sua realidade?

Sim. Tanto que faço stand up comedy. Sou representante do humor para as pessoas com deficiência, onde me foco e brinco com a minha deficiência e tento mostrar e ajudar as pessoas a tentar compreender e a lidar melhor com a diferença.


O amor vence o preconceito?

Vence, se for verdadeiro e nos olharem com mais normalidade.


Sérgio Alexandre Lopes, Humorista



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