Sexualidade depois do Aborto
O aborto, induzido ou não, pode desencadear múltiplas consequências psicológicas, físicas e sociais, podendo colocar em causa o equilíbrio psicossomático da mulher. A maioria das mulheres que sofre de aborto espontâneo consegue ultrapassar a perda, sem sofrer de perturbações psicológicas associadas. Mas o aborto pode ser bastante traumatizante, gerando perturbações psicológicas como a depressão e a ansiedade.
Neste sentido, não se pode compreender a resposta emocional da mulher face ao aborto, se não se tivermos presente o significado que a gravidez encerra, naquele momento particular da sua vida e se corresponde ou não a um efetivo projeto de maternidade. Há muitas e diferenciadas respostas possíveis perante um aborto, ou seja, as respostas pós-aborto implicam uma análise holística, na medida em que é uma questão que encerra em si toda uma complexidade de dimensões, que resultam, de certo modo, da qualidade de ser um fenómeno indissociável da realidade pessoal, dependendo da motivação e desejo da gravidez, do investimento emocional nela depositado e na ligação com o bebé. No entanto, habitualmente, as perdas ocorridas no último trimestre têm maior impacto.
Apesar da variabilidade individual nas respostas emocionais, as mulheres que sofrem uma perda espontânea estão mais vulneráveis a apresentar tristeza, frustração, desapontamento, raiva e culpabilização. Quando estas consequências emocionais se agravam ou perduram no tempo, não sendo resolvidas através dos recursos pessoais é necessária intervenção psicológica específica.
No tocante à esfera sexual pós-aborto, constata-se que poucos estudos são realizados nesta área, no entanto, para além das limitações impostas devido à condição clínica, podem surgir várias questões de ordem emocional/psicológica que influenciam diretamente o envolvimento íntimo. Não há um tempo certo, cada mulher, cada casal, tem o próprio timing, o qual deve surgir sem pressões, até porque intimidade não é necessariamente sinónimo de sexo. Existem várias outras maneiras de expressar proximidade.
Dra. Maria Cunha Louro , Psicóloga Forense
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