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Qual de nós?, por Dra. Fátima Ramajal



 

Considerada um tabu na sociedade, a traição é vista como um ato que rompe com o “contrato social” de exclusividade física e emocional que duas pessoas estabelecem quando iniciam uma relação amorosa, emergindo como o principal motivo do divórcio conjugal. Socialmente, o autor da traição é sempre visto com “maus olhos” pois pode-se sempre agir com justiça sem que para isso se tenha de ser infiel. Embora se considere a traição como algo polémico e envolto em recriminações, ela segue enquanto fenómeno permanentemente observado em diferentes meios. Em relacionamentos monogâmicos, descobrir uma traição do parceiro pode ser um dos momentos mais dolorosos da sua vida podendo causar profundas consequências no seu estado emocional e até mesmo tornar o resto da sua vida num tormento.  Não só a pessoa traída sofre mas também quem trai e, por vezes, até mais, sobretudo se o comportamento infiel ocorreu num momento de espontaneidade motivada pela excitação.

 

            Para a Psicologia, a traição é muito mais complexa do que uma simples falha de caráter. Portanto, “Porque é que a traição acontece?” - Não há como definir, de forma universal e objetiva, o que motiva as pessoas a traírem. Inclusive, uma diversidade de fatores podem contribuir para a infidelidade. Cada um terá os seus motivos, até porque as pessoas e os relacionamentos são muito individuais e possuem características próprias. Assistimos, em tempos modernos, a diferentes formas e perspetivas de a pessoa se relacionar amorosamente abrindo espaço para novas configurações relacionais. Se outrora a insatisfação com a relação era um dos principais motivos, atualmente até “bons casamentos” são alvo de traição. Se outrora a exclusividade sexual era um dado adquirido para o casal, atualmente a utopia de os parceiros ficarem satisfeitos em fazer sexo exclusivamente com uma pessoa, no próximo meio século, é uma ideia obsoleta. A busca pela satisfação prazerosa de pulsões libidinais torna o prazer em poder, ativando o “desejo pelo proibido”. Por mais que queiramos ver aqueles que trapaceiam sob uma luz negativa, devemos lembrar que todos somos passíveis de cometer erros ao que entendemos por humanidade comum. Nem sempre quem trai quer destruir a vida do parceiro ou fazê-lo sofrer. Isso também não significa que os relacionamentos estejam condenados mas sim que a traição possa ser uma parte comum nas relações e talvez um comportamento que possa ser ressignificado. A traição deve ser tratada com racionalidade pois cada situação tem a sua dinâmica e elementos próprios, a sua realidade. Além disso, devemos fazer uma avaliação sem moralismos e preconceitos, pois cada história é única e quem deve decidir o que é certo ou errado é o casal.

 

            Relativamente a quem trai, estudos evidenciam que os homens traem mais do que as mulheres. Parece que a natureza programou o homem para procriar ao máximo, e a mulher para ser mais seletiva e formar família. Os homens têm maior capacidade de separar o sexo do amor. Tendem a não pensar nas consequências e têm maior confiança de que conseguirão escapar da situação caso sejam descobertos. Geralmente, quando um homem trai, ele procura prazer ou atenção. As mulheres, por outro lado, tendem a formar um vínculo afetivo com a pessoa escolhida para a infidelidade. Ponderam mais a situação, “estudam” as opções e geralmente traem quando o relacionamento atual não é satisfatório ou está em estado de rutura. Ainda que sendo o homem a liderar o ranking das traições, as mulheres ditam um novo posicionamento porque exigem parceiros mais afetivos, mais capazes a nível sexual ou mais preparados fisicamente.

 

            Contudo, a pergunta que não quer calar é “Como lidar com a traição?”. Mais uma vez, a verdade é que não existe uma resposta universal que esclareça as pessoas que já foram traídas. Aceitar ou não aceitar ser traído, bem como perdoar ou não perdoar o parceiro, são decisões que precisam de ser analisadas com calma e ponderação, tendo em conta as suas emoções e os planos futuros para o relacionamento. Por vezes a crise pode ser oportunidade para a mudança e para o crescimento. Caso esteja a ser difícil encontrar uma solução ou o processo de superação esteja a ser complicado, fazer terapia para descobrir a opção menos agressiva para a sua saúde mental poderá ser a solução. Afinal, não é o que nos aconteceu na vida que nos exclui de sermos FELIZES!

 

Dra. Fátima Ramajal, Psicóloga Clínica

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