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Prazer em cena: verdade e representação





Como se mede o prazer sexual?

Pelo volume do gemido? Pelo número de posições? Pela duração do ato?


Prazer e performance são duas dimensões do ato sexual que se interligam, mas são coisas distintas: prazer é agradar e ser agradado, é o gozo que vem associado ao sexo, a performance é o desempenho, é a atuação.

Uma coisa é o sexo vivido por dentro, outra coisa é o sexo agido por fora.

O teatro que, por vezes, está envolvido no jogo sexual pode ofuscar as ideias. É bom não confundir o dentro e o fora, a verdade (interna) e a representação (externa).


Evidentemente, as duas dimensões estão em diálogo permanente, e um mau desempenho (seja lá o que isto for e aos olhos de quem) dificilmente potenciará o prazer.

Mas, não nos iludamos, pode haver um fosso entre a verdade e a representação. Além disso, há a sintonia (ou falta dela) com o parceiro sexual.

Quanto maior a sintonia dos parceiros, menor o fosso, maior o prazer.


Em termos do sexo performativo, diria que as mulheres se têm vindo a aproximar do registo dos homens, mas, apesar disso, eles ainda continuam a ter uma visão mais performativa, porque mais genitalizada, do sexo.


O estereótipo (em vias de extinção?) de que o prazer sexual é algo que o homem dá à mulher, pode criar a pressão do “tenho que lhe dar prazer”, transformando o sujeito participante em espectador de si mesmo, desligando-se do gozo e da transcendência partilhada.


Há homens (seria mais correto dizer: há pessoas) que vão para o ato sexual como se estivessem num casting para o Cirque du Soleil, é a espetacularidade das piruetas que lhes garante a nota artística e o prazer (narcísico) associado.

Outros só conseguem soltar-se e fruir o sexo após o orgasmo delas. Sem este selo de qualidade performativa não se dedicam ao (seu) gozo. Um gozo pessoal e intransmissível.


E a cultura também não ajuda.


Eficácia é a palavra de ordem nas mais diversas áreas da nossa vida e o sexo não escapa ao ditame. Um pouco por todo o lado se proclama o sexo eficaz, mecanizado e hipertécnico, como garante de desempenhos e prazeres (normalmente confundidos) salvadores dos egos mais inseguros.

E não se olha a meios.

Há relatos do consumo de metanfetaminas para a prática de maratonas sexuais, os medicamentos para a disfunção eréctil são usados como drogas recreativas que tranquilizam ansiedades de desempenho e rejuvenescem o homem em envelhecimento, as cirurgias de redução do diâmetro da vagina vão crescendo, fala-se em injeções de colagénio no famigerado ponto G, etc.


O combustível que alimenta estes movimentos é claro: intensificação do prazer e obsessão com a performance.

Só assim se pode encarnar o papel de super-homem ou de super-mulher, não do erotismo, nem do amor, mas do desempenho competitivo.

Já não basta fugir a sete pés de estar abaixo da média, é preciso estar acima da média.


Diga-se que esta pressão também é visível em relações homossexuais em que há papeis rigidamente definidos quanto a atividade/passividade.


Talvez fosse bom resistir a isto.

Talvez fosse bom resistir ao sexo deserotizado que vagueia pelo espaço mediático.

Lá, nos média, o sexo é falado, analisado e prescrito de uma forma “simples” e universal, negando a fantasia, o desejo, a culpa, a inibição ou o conflito que sempre o acompanham.

Lá, nos média, esquece-se que estas dinâmicas são irrepetíveis, de pessoa para pessoa e de casal para casal.

No limite, tenta-se negar os traumas universais a que todos fomos expostos: a existência da alteridade, a descoberta da diferença entre os sexos e a inevitabilidade do envelhecimento e da morte.


Nada me move contra o sexo performativo, puro e duro.

Esta deambulação narrativa foi apenas uma tentativa de delimitar conceitos, que são dinâmicos e interativos, aproveitando para lembrar que é no interior de cada um que estas “verdades” devem ser encontradas.


Quem nunca viu ou ouviu falar de sexo acrobático, muito vocal e repleto de efeitos especiais, mas vazio de sentido?


Dr. Pedro Fernandes, Psicólogo Clinico e Psicoterapeuta



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