Os homens não se medem aos palmos, por David Almeida
25 de Outubro de 2023, Dia Nacional de Combate ao Preconceito Contra as Pessoas com Nanismo
David Almeida, ator quase há 30 anos, nasceu em Lisboa, é portista ferrenho. Nasceu anão sendo o mais famoso de Portugal, mas isso não o impediu de ser gigante quando subiu ao palco.
Este homem é amado por um enorme grupo de pessoas. Carismático, bem-humorado, sarcástico, talentoso e, acima de tudo, um anão com um coração de gigante de quem é fácil gostar. Já trabalhou com alguns dos maiores nomes do cinema, do teatro e da televisão. Sonha um dia representar um galã de uma telenovela.
Nesta nova fase da sua vida começou a escrever um documentário sobre anões e também um espetáculo multidisciplinar e tem um programa de rádio.
Na entrevista ao Love with Pepper, David abre o seu coração e fala-nos de como é viver com nanismo no seu país e das adversidades da sua vida.
Como nasceu a sua paixão pela representação?
Sempre fui apaixonado pelo o teatro, e queria ser um ator anão e não um anão ator. Tive sorte que na minha carreira fiz televisão, encarnei várias personagens como Hitler, entre outras, mas sem dúvida a minha grande paixão é o teatro. Também fiz cinema, dança contemporânea e televisão.
Como define o seu percurso de vida com 53 anos?
Sou um vencedor, apesar que na altura que nasci o nanismo era muito arcaico e a medicina e terapias não estavam tão evoluídas não era uma situação fácil. A minha Mãe dizia-me muitas vezes que alguns médicos diziam que nunca ia andar e com a luta e resiliência da pessoa mais importante da minha vida, a minha Mãe consegui e ela tornou-me num Homem. Hoje sou o que sou por ela.
O que é o nanismo?
É um transtorno que se caracteriza pela deficiência de crescimento. O meu tipo de nanismo é o mais vulgar, que é acondroplásico que são os braços e pernas mais curtos.
O nanismo impediu de realizar alguns dos seus sonhos?
Como todos os sonhos de criança de ser jogador de futebol.
Alguma vez sentiu na pele preconceito pelo facto de ser anão?
Sim, mas não ligo. Existem pessoas muito maldosas, má fé e índole, mas tive uma Mãe que me educou muito bem e sou uma pessoa muito bem resolvida com o meu problema e nunca necessitei de qualquer apoio psicologico. Acho que não há nada como uma pessoa se integrar na sociedade, ter o seu caracter, carisma e autoestima.
Acha que o facto de ser anão o dificulta nas relações amorosas?
Na adolescência fui completamente renegado, mas com o passar dos anos e a minha maturidade permitiu-me ter namoradas, também tive os meus desgostos, amores e desamores como qualquer pessoa normal. Também o facto de ser ator, expunha-me bastante e não me escondia o que raramente me lembrava que era anão.
Sente que com o passar dos anos existe mais abertura e menos preconceitos das pessoas em relação ao nanismo?
Na minha opinião tem vindo a piorar, sinto que com as novas tecnologias as pessoas empobreceram muito na mente e na alma. Vivemos numa sociedade fundamentalista e apesar de se lutar pelos direitos, contra descriminação e preconceito, o preconceito está sempre lá, ele existe.
Como é o nanismo a nível sexual?
Nunca senti desconforto, embora não consiga fazer algumas coisas, mas o importa é que se vá fazendo e ter prazer.
Sente-se inferiorizado em relação aos outros homens?
Não, porque considero que os homens em pleno sec.XXI são uns insensíveis e que muitas das vezes não têm noção de como tratam uma mulher e custa-me imenso ver isso.
É um homem seguro a nível sexual?
Sim, muito e sempre fui.
O tamanho é importante?
No meu ver, o que é importante é o tamanho da sensibilidade e não nos centímetros ou metros que um homem possa ter.
Como define AMOR?
AMOR é saber sentir, ouvir, escutar e serenidade e harmonia nas nossas atitudes.
Acredita no AMOR verdadeiro?
Acredito, esse AMOR até pode durar 2 minutos, mas se for AMOR verdadeiro ele está lá e não desaparece.
O AMOR vence o preconceito?
Sim, mas por vezes o preconceito vence o AMOR. Pode existir Amor por uma pessoa, mas se o preconceito estiver ali o AMOR não vence o preconceito.
David Almeida, Ator e Escritor
Comments