O Luto
Como lidar com a perda de um companheiro?
ada nos prepara para a perda da pessoa com quem idealizámos passar o resto da vida. Quando perdemos alguém tão especial para nós, um companheiro ou uma companheira, vivemos aquela que é a segunda dor mais intensa que podemos sentir. A primeira é a perda de um filho; a segunda de um companheiro. Perder os nossos pais é igualmente doloroso, no entanto, temos a ideia inconsciente na nossa mente de que, sendo mais velhos, estes poderiam partir antes, o que tende a proporcionar-nos algum conforto perante este cenário. Já a perda do nosso companheiro ou companheira é uma perda inesperada, difícil de compreender e, como tal, igualmente difícil de gerir.
Como lidar com o momento do luto e ser capaz de avançar?
Lidar com a perda e compreender a importância de seguir em frente, em momentos tão dolorosos, é desafiante. Somos inundados por um sentimento de vazio, um sentimento de mágoa muitas vezes tão grande que chega a deturpar a nossa visão do mundo, dos outros e até de nós próprios.
O que é que isto significa? Quando perdemos alguém com quem vivemos um grande amor, existe a tendência para a idealização da relação, ou seja, perante este cenário de dor, colocamos a nossa relação com a pessoa que partiu como algo absolutamente perfeito, digno de um conto de fadas, onde não existiam quaisquer erros ou comportamentos menos positivos. Ainda que esta atitude seja compreensível, porque a nossa memória também é seletiva e “escolhe” guardar as memórias que trazem algum conforto, também faz com que estejamos a desenvolver uma imagem do nosso companheiro ou companheira que faz com que não sejamos capazes de seguir em frente. Parece que nada nem ninguém vai ser capaz de estar à altura da pessoa que amámos, quando, a verdade, é que essa pessoa era uma pessoa imperfeita, que cometia erros e tinha defeitos – nós apenas tínhamos essa consciência e escolhíamos amar essa pessoa exatamente como era. Esta sensação de que ninguém pode ocupar o lugar do nosso companheiro ou companheira é, geralmente, a mais prolongada e dura de ultrapassar. No entanto, honrar a vida da pessoa que amámos passa sempre por acreditar que seguir em frente é a melhor opção. Honrar a vida dessa pessoa não é ficar agarrado à sua morte; é termos a capacidade de nos agarrar à nossa própria vida, aceitar novas oportunidades e seguir em frente. Permitirmo-nos a nós mesmos ser felizes é aquilo que realmente honra o amor que já vivemos antes – não o contrário. Novamente, é importante ter em consideração que a nossa visão está deturpada. Eu compreendo que, neste momento de dor, ter esta perspetiva mais analítica não é de todo fácil. E atenção, ter esta visão mais racional não significa de todo que o amor que vivemos com aquela pessoa não foi real, intenso e profundo – significa apenas que não foi cor-de-rosa. Esta ligação tão emocional e tão forte acontece porque a pessoa faleceu e é importantíssimo ter esta consciência. Nós fomos capazes de amar esta pessoa, mas também seremos capazes de amar outra pessoa – perceber isto é essencial para que consigamos recentrarmos e encontrar o equilíbrio que nos permitirá, aos poucos, lidar com o luto. E quando pensamos em novas relações? Ao contrário daquilo que parece neste momento, estar com alguém novo não é uma traição para com a pessoa que faleceu. Existe muitas vezes esta conotação perante novas relações e novas pessoas, associada até a emoções desagradáveis, mas esta ideia que construímos na nossa cabeça não é real. Não abrirmos caminhos para novas oportunidades não é, de todo, aquilo que a pessoa que perdemos quereria para nós. É essencial voltarmos para dentro de nós próprios, compreender que é um processo de luto doloroso, ser capaz de aceitá-lo e seguir em frente, procurando começar a preparar-nos para uma nova relação e para uma nova pessoa. Se necessário, este pode ser o momento ideal para procurar ajuda profissional, já que é importante garantir que estamos realmente preparados para estar numa nova relação – caso contrário, vamos voltar aos sentimentos de mágoa e frustração. Quer estejamos a escolher fazer este percurso acompanhados ou sozinhos, o essencial é saber que honrar a vida da pessoa que amámos, as suas histórias e os seus sonhos, passa por continuar a viver a nossa. Sermos pacientes, permitirmo-nos aceitar a perda e avançar é o segredo para que sejamos capazes de abandonar os sentimentos de revolta e mágoa que nos invadem, e seguirmos o nosso caminho, com a serenidade e paz que a pessoa que tanto amámos desejaria para nós.
Dr. Eduardo Reis Torgal, Coach
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