O Humor não tem Tamanho, por Miguel Crista

25 de outubro de 2024, Dia Nacional de Combate ao Preconceito Contra as Pessoas com Nanismo

Miguel Crista, nasceu em Matosinhos no ano de 1983. Tem hoje 41 anos e é anão, sendo portador de nanismo do tipo diastrófico.

Sempre foi uma criança muito amada e apoiada pelos pais, família e amigos, cheio de sonhos e com uma vontade imensa de se superar, ultrapassando os obstáculos que foi encontrando no dia a dia e desmitificando preconceitos e rótulos que a sociedade teima em colocar em tudo o que é “diferente”.

É comediante e humorista na Dupla H&M, que nasceu com uma amizade com mais de 30 anos. A vida levou cada um dos elementos da dupla por caminhos diferentes, mas quis o destino que, ao fim deste tempo, se reencontrassem e pusessem Portugal a rir.

O Hilário Meneses já tinha alguma experiência nesta área e fazia vídeos nas redes sociais. Um dia estava a fazer uma live no tiktok e perguntou se alguém conhecia um anão para fazer um vídeo pontual. Uma amiga de Miguel que estava a ver a live disse-lhe para entrar em contato com ele. Depois do primeiro vídeo, que teve cerca de 200 mil visualizações, a dupla nunca mais se separou.

Nesta entrevista ao Love with Pepper, Miguel conta-nos o que há em comum entre o humor e o nanismo e sobre as adversidades que este lhe colocou.

Para si o que é o humor?

O humor é uma forma de quebrar o gelo, mostrando à sociedade que se pode brincar connosco próprios e com os outros, sem ofender nem prejudicar ninguém.

O que há em comum entre o humor e o nanismo?

O humor ajuda pessoas com nanismo a mostrar à sociedade que se pode brincar com a nossa forma física e usar isso como piada e como forma de estar na vida.

Para si o que é o nanismo?

O nanismo para mim é ver o mundo com outra perspetiva, a capacidade de superação tem de ser muito maior.

Como é o nanismo a nível sexual?

Têm as suas vantagens e desvantagens, como tudo na vida.

Como foi a aceitação com o seu corpo em relação à sexualidade?

Normal, sempre me aceitei bem, de um modo geral, nunca olhei para mim como uma pessoa diferente.

Quais os segredos que tem em relação ao seu corpo, de forma a ter uma imagem corporal positiva?

Uma boa alimentação e exercício físico.

Quais os desafios que enfrentou em termos de relacionamentos e sexualidade?

Em termos de relacionamentos, o maior desafio que encontrei foi fazer perceber que sou um homem como os outros, apenas sou pequeno, não sou nem mais nem menos do que ninguém. A nível da sexualidade, sempre fui sujeito à curiosidade, sobre o modo e o desempenho sexual.

De que forma o facto de ser anão o influencia nas relações sexuais, amorosas e sociais?

O ser Anão nunca influenciou em nada as minhas relações sexuais, amorosas e sociais, porque sempre tive que provar à sociedade o meu valor. Como já referi anteriormente, os rótulos da sociedade fazem com que tenhamos que demonstrar que somos capazes apesar das nossas limitações.

Considera que o facto de ter sido pai o ajudou nas suas relações, quer pessoais, quer afetivas?

O ser pai foi a grande chapada de luva branca à sociedade, pois desmitificou a ideia de que um anão só pode ter filhos com a mesma patologia. Errado, o meu nanismo não é genético.

Alguma vez sofreu preconceito e descriminação por parte da nossa sociedade, maioritariamente feminina por ser anão?

Dá-se muito valor ao aspeto físico do ser humano, em que o interior pouco conta, preconceito ou descriminação diretamente nunca senti, mas sei que sempre existiram dúvidas sobre o meu real valor

Considera que o nosso SNS tem os recursos necessários para tratar pessoas com nanismo?

A medicina em geral tem evoluído muito ao longo destes anos. Presumo que hoje em dia estará mais preparada para tratar casos de nanismo.

Sente-se um homem inferiorizado em relação aos outros homens?

Nunca, ninguém é mais do que eu, nem eu sou mais que ninguém, tenho qualidades/defeitos como qualquer homem, por isso não me sinto inferiorizado em relação aos outros homens.

Hoje em dia sente-se um homem seguro a nível sexual?

Sinto-me a 100%.

Qual a sua arma de sedução?

A minha maneira de ser, a forma como ajo, o olhar e o humor, sem dúvida alguma.

O tamanho é importante?

O tamanho não é documento, como tal, não é importante.

Sexualmente realizado, vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?

Concordo e não escolheria melhor lema.

O Amor vence o Preconceito?

Quando se ama não existe preconceito nenhum que seja capaz de travar o amor!

Miguel Crista, Rececionista