O Corpo Magnético, por Maria Fonseca
29 de abril de 2023, Dia Mundial da Dança
Como bailarina profissional é interessante pensar que os tempos mais assexuados que vivi foi no meu primeiro ano de treino profissional nos London Studio Centre, sentia-me um corpo em movimento, não propriamente mulher ou homem, mas um ser vivo sem qualquer definição específica. Também se relacionou com uma procura interior de algo que vai além do corpo, além do ser masculino e feminino, na procura de expansão através do movimento e da alteração de respiração que provém dele. Ao longo da história a dança tem sido associada à sensualidade, mas também à transcendência. Homens e mulheres maquilhavam-se e adornavam-se de maneira a honrar, mas também a atrair, os nativo-americanos Hupa por exemplo, celebram a primeira menstruação da mulher com a "Flower Dance" na cerimónia "coming of ages". A dança faz parte da história de variadas tradições e religiões, é importante lembrar que também fez parte por exemplo do cristianismo, tendo sido proibida no século XVIII por ser considerada sensual, libertina e por isso distrativa.
Na era contemporânea a dança tem sido usada também como forma promover ídolos e publicitar, precisamente porque a dança é uma forma de embelezamento e essencialmente empoderamento. São inúmeros os contextos onde a dança se revela uma forma de conexão com a sua sexualidade e com os outros, as chamadas "social dances", como as danças de salão e também house, Whacking e Voguing, entre outras. Um exemplo é Madonna, tendo um impacto importante na afirmação da sexualidade através da dança nos seus video-clips controversos, especialmente o "Vogue" lançado em 1990 onde a comunidade drag teve visibilidade pela primeira vez e os bailarinos tornaram-se ícones para a jovem comunidade gay em todo o mundo. O documentário "Strike a Pose" aprofunda esse tema. Este é apenas um exemplo que representa a importância da dança ao longo da história na tentativa de igualdade de direitos sexuais. Do ponto de vista terapêutico, quando se observa um corpo em movimento, ele não mente, a relação do indivíduo com a sua sexualidade transparece, um simples andar, diz muito. Neste sentido arrisco-me a dizer que movimento é magnetismo e nesse sentido a sua prática ou ausência dela têm um impacto na nossa vitalidade e por conseguinte na nossa sexualidade.
Maria Fonseca, Dance Artist
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