O Cancro sem Tabu, por Luciana Mendes
Luciana Mendes, 42 anos, palestrante e venceu um cancro, um tumor muito raro, um osteossarcoma ósseo, um tumor maligno na mandibula.
Em 2019, esta jovem descobriu um ligeiro inchaço na cara, em que esta estava diferente, mais propriamente na gengiva e foi através de uma fotografia que tirou. Decidiu marcar uma consulta e um dentista lhe diagnosticou um abcesso na boca. Depois de várias consultas e antibióticos e fármacos, nunca passava o tal abcesso.
Entretanto cruzou-se com uma dentista que tinha estagiado no IPO e percebeu que havia ali algo de estranho e enviou a amostra do tecido para ser analisado. E chega-se a u diagnóstico que em vez de um abcesso, tinha um tumor maligno na mandíbula, um chamado osteossarcoma. Um dos cancros mais raros que existem, que atinge os ossos.
Ficou em choque apos o diagnóstico, chorou durante três dias e depois desse choque foi à luta nesse processo em que teve altos e baixos, mas nunca entregou à doença.
Neste momento Luciana encontra-se, praticamente curada, mas neste capítulo mais difícil da sua vida ainda não está fechado. Porém, os braços nunca baixam e desistir nunca será a opção desta jovem.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, Luciana Mendes fala-nos da importância que nós devemos dar ao AMOR próprio e também a importância da sexualidade no cancro e da maneira que este lhe afetou a autoestima, mas sem nunca deixar de se ver.
Como define o seu percurso de vida?
Está resumido em duas palavras: cuidadora e lutadora.
É uma mulher de fé?
Sou! Apesar de ter ficado chateada com Deus a certa altura da minha vida, que foi quando partiu a minha Avó, não percebia o porquê de a ter perdido e procurava as respostas ao qual não apareciam, mas a partir do momento que comecei a ficar doente a fé começou a voltar aos pequeninos.
Como define a palavra cancro?
Um desafio de vida.
Tem conhecimento que muitos destes doentes são abandonados. O seu namorado sempre apoiou?
O meu ex namorado apoiou-me sempre neste processo. Aliás na altura que eu soube o cancro que tinha e nem sabia se iria sobreviver, disse-lhe para seguir o caminho dele, mas ele disse que ia cuidar e tratar de mim.
De que forma a sua autoestima foi afetada pela doença?
Foi muito afetada, foi um golpe na minha autoestima, porque deixei de sorrir, o meu rosto ficou com cicatrizes e fiquei sem dentes. No entanto, o uso da mascara durante a pandemia ajudou-me porque ninguém olhava para mim e dizia que tinha um cancro.
Recorreu ajuda psicológica durante este processo todo?
Sim, tive apoio no IPO de Lisboa e hoje tenho apoio a nível particular.
O que mudou no seu corpo e na sua vivência sexual?
O meu corpo mudou , tenho cicatrizes na cara, pescoço e perna, a minha vivência sexual não mudou nada até porque quando estava em tratamentos sempre tive relações sexuais. Também estava habituada aquele homem, agora no futuro quando tiver alguém, evidente que terei as minhas inseguranças, mas será um processo.
Não querendo ser muito invasiva e não querendo entrar na intimidade como é a sexualidade no cancro?
Felizmente, continuei a ter relações sexuais, não com aquela agilidade como quando não tinha cancro e tinha prazer. Aliás até perdi peso e fez-me sentir mais sexy e bonita, naquela altura que estava careca e normalmente é tudo mais feio e pesado.
Alguma vez teve receio da parte do ser companheiro da rejeição do seu novo rosto?
Sim, tive esse receio e por mais que a nossa relação tenha acabado, pensei que esse um dos motivos, mas ele sempre negou.
Como foi ver-se pela primeira vez ao espelho com o seu novo rosto?
Durante este processo todo já me vi com vários rostos, já passei por muitas cirurgias e no início não foi um choque. Fui muito corajosa, e no início via-me todos os dias ao espelho e encarei tudo dentro da normalidade. Mas sem dúvida na segunda cirurgia que me removeram o tumor e retiraram o osso, a minha cara mudou literalmente, aí foi muito traumático, mas pensei e sabia que era temporário.
De que forma os tratamentos podem prejudicar as relações amorosas e sexuais?
Como tive um cancro na boca, em certas alturas não podia beijar o meu namorado, e senti que prejudicava a relação, porque para mim não existe sexo sem um beijo, beijar é muito importante. Sei que que ele nunca teve problemas nesse sentido, mas surgiram as tais mudanças.
De que forma é que sua libido, lubrificação, desejo sexual foi afetada devido ao cancro?
Nunca foi afetada, felizmente não passei por isso.
Após as alterações corporais que sofreu, continua a ver o seu corpo com os mesmos olhos ou em alguma fase o rejeitou?
Em relação ao meu corpo sou muito grata por ele funcionar r por ter pernas e braços por poder caminhar e gosto daquilo que vejo. Agora a minha cara por vezes é difícil olhar-me ao espelho por ver os danos que o cancro me causou, mas aceito. Grata por estar viva é isso que importa.
Considera a sexualidade importante como terapia na recuperação de um cancro?
Embora exista muito tabu em relação a este tema no cancro é extremamente importante e para nós mulheres é bom na altura que estamos em tratamentos, estamos mais débeis, fragilizadas, sem cabelo sobrancelhas e se alguém nos desejar aumenta-nos sem dúvida a autoestima e faz-nos bem. Também acredito que por não haja disposição e vontade para tal.
Como vê o futuro?
Neste momento, tenho 42 anos, sempre trabalhei com a minha imagem e o cancro veio mudar a minha vida. Sei quero muito viver, sorrir, comer e dançar e quero só coisas boas.
Sexualmente realizada. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?
Concordo, completamente. Porque partilhar experiencias nesse sentido faz-nos bem e a parte da sexualidade é um descoberta em nós, dá prazer e assim todos seremos mais felizes.
O sexo é bom?
Agora já não tenho, mas felizmente sou muito bem resolvida sexualmente, não tenho qualquer problema. Mas tendo um parceiro é bom.
O AMOR cura?
Só AMOR não! O que cura é a coragem, resiliência , persistência, porque há muitas pessoas sem AMOR que se curam, ou seja, essas têm AMOR dentro delas e é isso que ajuda a curar.
Luciana Mendes, Palestrante e Escritora
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