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O amor nas redes sociais.


Responsabilidade afetiva, será que temos?


A urgência da responsabilidade afetiva em tempos digitais


Ter responsabilidade afetiva é ser-se sincero sobre o que se sente pela outra pessoa e o que espera dessa troca, seja num relacionamento já existente, seja quando existe apenas interesse e não se sabe bem ainda em quê que pode dar.

Se quisermos simplificar “é se colocar no lugar do outro”.

Embora esses conceitos parecerem simples, eles não são muito praticados nos dias de hoje. Muitas vezes, confunde-se a liberdade que as redes sociais demonstram e esquece-se que do outro lado estão pessoas, com sentimentos, emoções e uma história de vida.


É fácil atualmente não pensar no impacto das nossas ações, do que falamos e dos danos que causamos no outro. Se a nossa estrutura mental, emocional e espiritual está enfraquecida, qualquer situação, sobretudo quando se percebe a verdade, o lidar com a frustração e a deceção de tal irresponsabilidade, pode se tornar pesada demais e por vezes insuportável. As questões de como alguém pode simplesmente desaparecer, bloquear ou ignorar toda a realidade e expectativas anteriormente construídas, invadem o pensamento de forma constante e transformam os dias, infelizes e angustiantes.


Obviamente, a tecnologia não é a culpada pela irresponsabilidade. Ela apenas facilitou as coisas. A irresponsabilidade afetiva para com os outros ou a culpa de falsas expectativas, nada tem a ver com as redes sociais.


As pessoas querem pôr as culpas da sua superficialidade em alguma coisa e essa serve como escape. A realidade é que tem mais a ver com os valores independentes e transversais ao mundo físico e digital. Tem mais a ver com a forma como encaramos as relações de hoje e lidamos com as nossas emoções.


Nem sempre é fácil definir com todas as letras os sentimentos, especialmente no início de um relacionamento, quando nem nós próprios entendemos direito o que sentimos. Não é novidade que as formas de relacionamento mudaram muito ao longo dos anos. Se antes era normal casar cedo, para muitas pessoas hoje o casamento nem motivo é para se ponderar. Temos mais liberdade para nos relacionarmos e entender o que buscamos e esperamos do outro.


Não se vê problema em sair com mais de uma pessoa, experimentar coisas novas, se entregar logo no início ou esperar meses para que algo se aprofunde. Quando falamos do conceito de responsabilidade afetiva, o ponto é justamente fazer isso de forma responsável. É importante comunicar ao outro as intenções ou as expectativas naquele momento.


O que acontece muitas vezes é uma falta de responsabilidade com essa liberdade.

Criar falsas expectativas para o outro é não o respeitar. Todos somos responsáveis pelas expectativas que ajudamos o outro a construir.


Ninguém é obrigado a amar ninguém, mas é importante ser-se sincero sobre o que realmente está a sentir e transmitir à outra parte. Chamamos a isso honestidade, para contigo e para com os outros. Algo que se começa a extinguir na roda dos valores.

A importância da responsabilidade afetiva está justamente em respeitar o que tu sentes e o que o outro sente também. Se a outra pessoa está mais envolvida, os dois sabem disso e ela resolve ir embora, ela tem esse direito.


Não é porque tu estás indecisa, por exemplo, que ele tem que ficar a espera que tenhas os sentimentos mais claros. É verdade que gostamos da segurança de ter alguém ao nosso lado enquanto se decide o que quer. Mas gostarias que fizessem isso contigo?


Ser honesta sobre o que sente pode, sim, te trazer perdas. Mas será que valeria mesmo a pena aquela pessoa ficar? Naquelas condições? Não é justo segurar alguém ou alimentar expectativas que tu sabes que não conseguirás cumprir. Responsabiliza-te pelas tuas escolhas.

Muitas vezes, as pessoas sabem em que tipo de relação estão e que aquilo não se vai transformar no que elas esperam, mas mesmo assim permanecem.

Porquê? Poderíamos estar a falar sobre isso o dia todo. Mas principalmente a de achar que o outro vai mudar de ideias ou que é possível “conquistá-lo”.

Ficam aqui alguns pontos de vista que te vão ajudar na comunicação e a agir melhor em relação ás pessoas a tua volta:

  • Gostaria de ser tratada da forma que estou a tratar os outros? Uma simples reflexão pode ajudar imenso;

  • Ser transparente em relação aos teus sentimentos, sejam eles bons ou menos bons. As pessoas vivem timings diferentes, basta comunicar isso ao outro;

  • Responsabilidade afetiva não é reciprocidade amorosa. Não te sintas pressionado a ter os mesmos sentimentos que o outro;

  • Tenha a coragem de ir embora quando decidir que aquilo não é mais o que tu queres;

  • Seja sincero naquilo que procuras, sem parecer invasivo ou indelicado.

  • Se não puderes responder no momento, diz que não podes e o farás assim que possível.

  • Se a pessoa que estás a conversar não é o amor da tua vida, não a iludas. Podes demonstrar que é especial sem prometer mundos e fundos.

  • Seja responsável com a imagem da pessoa, evita expô-la sem o consentimento prévio da mesma. Nunca saberás se um dia quem será exposto numa situação idêntica, tua irmã, amigo ou familiar.

  • Não trates a pessoa como um troféu ou prêmio de consolação do teu ego. As pessoas não são objetos ou amuletos da sorte.

  • Entende que todo relacionamento gera expectativas, a frase “não crie expectativas” não existe nos relacionamentos, independente de quais sejam. Portanto, procura saber quais são as expectativas da pessoa e deixa explícito se tem ou não interesse em considerar tais expectativas.

  • Sinceridade é uma coisa, má educação é outra. Usa a comunicação não violenta e entende como a pessoa se sente ao conversar contigo.

  • Uma não resposta também é uma resposta. Mas nem sempre são as melhores. Causam dúvidas e ansiedade desnecessária do outro lado. Avisar a pessoa que não irá responder quando ela chatear, pode ser uma alternativa responsável.

Cada pessoa é única, as historias e relacionamentos podem deixar de ser motivo de perturbações quando compreendemos nossos limites e os limites da pessoa envolvida.


Dra. Mónica Sampaio, Psicóloga Clinica

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