Nunca #Desistir, por Cassandra Miranda
Cassandra Miranda, natural de Almada, é uma mulher que nasceu no corpo errado, um corpo masculino.
Esta mulher passou a vida inteira a renegar o seu corpo e a sentir aquilo que nuca o era um homem. Teve essa perceção desde dos 6/7 anos.
Hoje, Cassandra tem 58 anos e fez a cirurgia de redesignação sexual aos 54 anos e a partir desse momento sente-se uma mulher igual ás outras.
Arrependida de não o ter feito e lutado pela sua mudança quando era mais jovem, só para agradar o seu Pai, em que admite que foi infeliz nestes anos todos com depressões e sofrendo horrores com o seu aspeto. Hoje, ao fim de 4 anos está a viver uma felicidade plena.
Acredita no AMOR, mas afirma que é muito difícil acontecer, porque vivemos numa sociedade materialista e egoísta, no entanto julga que ainda existe pessoas que conseguem doar até ao final da vida.
Refere ainda que o maior ato de AMOR, são os seus filhos e apesar de nascer, crescerem e serem criados por ela e amam-se mutuamente e agora adultos aceitam a nova condição desta de mulher transgénero. É o maior ato de AMOR que existe na vida e que o Ser humano possa ter. É uma mulher que não vive ilusões.
Apesar do preconceito e descriminação que tem sofrido ao longo deste processo de anos, a sua luta permanece mesmo que essa seja sozinha e faz com que a força seja ainda maior para lutar por estas pessoas trans.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, Cassandra, numa conversa sem tabus fala-nos da sua luta na nova fase da sua vida.
Qual a diferença da Cassandra do antes e a de hoje?
Não existe diferença nenhuma. A minha mente nunca mudou e sempre pensei o mesmo.
Na altura, que começou a ter a perceção que algo sentia que não estava bem com o seu corpo, procurou ajuda?
Não, porque não entedia muito bem o que se passava comigo. Além de que os meu pais estavam a educar-me para ser um menino e sempre fui contrariando aquilo que sentia dentro de mim. Se aos 6/7 anos não entendia o porquê de achar que tinha algo de errado com o meu corpo. Mas aos 10 comecei a entender melhor e aos 16 com a entrevista da Roberta Close na televisão vi, que era uma pessoa trans.
Na sua família desconfiavam que existia algo de estranho consigo?
A minha Mãe talvez, mas a minha família não tinha essa perceção.
Qual é era o seu refúgio?
O meu refúgio era a minha mente e focava-me na minha consciência, não havia outra hipótese. Se fosse hoje fazia tudo de forma diferente e com a evolução do mundo tudo seria mais fácil e também porque existe acompanhamento em todos os campos.
Quando tinha relações sexuais antes da cirurgia consegui ter prazer sexual?
Não era muito fácil, porque não era eu. Agora já consigo ter prazer.
Como é que os seus filhos reagiram com a sua transição?
Na altura foi um choque, porque ninguém está preparado para enfrentar uma situação destas. Contei aos meus filhos quando estava a dar o programa na televisão “I am Jazz” e aproveitei a situação para lhes questionar sobre o assunto e vi que a reação foi positiva e depois contei o que se passava comigo e na realidade foi um choque, mas acabaram por aceitar.
Como consegui chegar a um diagnóstico?
Infelizmente, fui-me medicando sozinha com as ferramentas que tinha sem aconselhamento médico e sem uma avaliação multidisciplinar para me avaliar. No início, todos os transexuais são assim, lamentavelmente. Mas, depois de tantas tentativas falhadas recorri a uma clínica privada e tudo tem evoluído de forma positiva.
Sempre quis fazer a cirurgia de mudança sexual?
Sim, desde muito cedo. O meu desejo sempre foi ter uma vagina e tinha aquela sensação que ela estava no meu corpo. Quando acordei da cirurgia foi uma felicidade que ainda me acompanha até aos dias de hoje, renasci. Estou com uma genitália que corresponde à minha mente.
Qual o seu maior receio na cirurgia?
Apesar de ser uma cirurgia complicada e ser de risco em que esse seria não acordar, eu fiz. Prefiro arriscar a vida do que viver num corpo que não me corresponde.
Após a cirurgia, chegou a usar algum molde?
Sim, todas nós usamos um molde que o hospital faz. É um molde de gaze para simular o pénis, são tipo uns vibradores de vários tamanhos que temos que usar durante um ano. Não é agradável usar sempre o molde, temos que dormir com ele, o que é incomodo, não o faço isso à algum tempo, agora a minha dilatação é o sexo.
Como foi a sua recuperação?
Foi complicada porque quase ia morrendo na cirurgia, ou seja, passado duas semanas tive uma grande hemorragia levando a 2ª cirurgia, para além de levar 3 transfusões de sangue tive que fazer uma 3ª cirurgia. Voltava a fazer tudo novamente, porque valeu a pena, hoje sinto que sou uma mulher feliz!
Como foi a sua primeira vez após a cirurgia?
Foi passado 3 meses e meio que tive a minha primeira vez. Foi bom, embora seja muito difícil as mulheres trans terem prazer, mas eu tive e muito.
A nível de prazer, desejo e libido como é agora?
Começou a voltar lentamente e ao fim de um ano estava normal. Porque nós tomamos uns comprimidos bloqueadores de testosterona durante a transição e a libido, o desejo desaparece e 1 mês antes da cirurgia temos de parar com esse bloqueador. Depois tomamos uns bloqueadores mais fraquinhos e aí vamos adquirir e a tentar ter uma vida sexual normal.
Sente prazer com a masturbação?
Ao final de 2/3 meses, as médicas queriam que eu descobrisse o meu corpo e também que fizesse sexo seguro para fazer a dilatação. Lembro-me que na altura eu não queria porque estava tudo muito dorido com a cirurgia e com a ajuda da minha médica consigo ter uma vida sexual satisfatória. E sinto muito prazer quando me toco, mas não me masturbo.
Hoje, sente segurança e confiança a nível sexual?
Sim, muito.
O AMOR vence o preconceito?
Impossível! No caso das mulheres trans, existem muitos homens machistas que se querem aproveitar e quando estão com uma pessoa como nós querem-se aproveitar da nossa condição e obrigarem-nos a prostituir-nos. E o preconceito existe sempre.
Cassandra Miranda, Transexual Redesignada
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