Maria João Vaz, A Resiliente
17 de Maio de 2023, Dia Internacional Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia
Maria João Vaz é uma Mulher sensível, de uma generosidade imensa, que tenta lutar por um mundo melhor na igualdade e direitos do ser humano.
Conhecida pelo anúncio lançado em 1995 pela empresa de telecomunicações Telecel, actual Vodafone, a Maria João Vaz soltou-se do corpo onde esteve presa, sem saber. “Tou xim? É p'ra mim?” era a deixa conhecida deste anúncio que marcou a sua carreira até aos dias de hoje.
A Maria João é atriz e artista plástica.
Acredita na magia do Universo, da Vida e do Bom que a Vida tem!
O amor é livre, é bom sentir o amor e é bom que este seja um sentimento recíproco, salienta Maria João.
Desde a sua infância que sentiu que algo não estava bem consigo. Tentou levar uma vida normal e comum como tantas outras, até que, em 2018, colocou um basta e mudou!
Nesta entrevista ao Love with Pepper, Maria João mostra-nos o lado mais emotivo, frágil, íntimo e vulneral da sua vida, salientando que nunca é tarde para desistir de nós e lutar por nós.
Antes deste processo teve algum apoio psicológico?
Tive algumas conversas com duas psicólogas. No fundo, para confirmar aquilo que eu já sabia.
Considera-se uma Mulher romântica?
Sim, muito romântica.
Com que idade é que começou a sentir que algo não estava bem?
Desde muito cedo. Desde os cinco anos. Não me sentia confortável comigo mesma no dia a dia, e identificava-me com tudo o que é normalmente associado ao género feminino.
Como é que os seus familiares e amigos reagiram?
Os meus familiares no primeiro impacto aceitaram, mas são processos que demoram um bocadinho a incorporar. São mudanças que põem em causa o estabelecido.
O meu pai morreu antes da minha revelação, era um homem machista e desprezava a minha sensibilidade.
A minha mãe tem feito tudo para me apoiar. E vivemos cada vez mais em plenitude.
Teve uma vida dupla durante quantos anos?
Levei uma vida dupla secreta desde os sete ou oito anos.
Divorciei-me e após o divórcio conheci uma pessoa que foi muito importante, e que me ajudou a ter a perceção do que se passava comigo. Eu via-me como uma pessoa deficiente.
Existia amor no casamento?
Não sei se existia amor. O meu casamento foi uma sucessão de equívocos.
Como foi manter um casamento durante anos?
O tempo ia passando, com muitas distrações que me afastavam do cerne da questão. Entretanto nasceram filhas que me mantinham ocupada e distraída. Adoro as minhas filhas.
As suas filhas nunca desconfiaram? Elas sentiam-na como mulher?
Nunca ninguém desconfiou de nada. As minhas filhas só souberam quem eu era, na realidade, na Primavera de 2019.
Como é que é o relacionamento com as suas filhas?
É maravilhoso. São as minhas melhores amigas.
Tenho a consciência de que eduquei as minhas filhas em função daquilo que sou. De maneira a serem livres e a fazerem aquilo que quiserem e a viverem sem preconceitos.
Quando e como se apercebeu que podia mudar de género?
Em dois mil e dezoito. Quando uma epifania me apontou o caminho da minha verdadeira realidade.
Qual foi o momento mais difícil da sua transição?
Não houve nenhum momento difícil! Depois da minha epifania e com o inicio da terapia hormonal, tudo se seguiu de forma natural. Renasci.
É uma mulher com fé?
Se a pergunta é relativa a religião, não, não tenho fé.
Sente-se uma mulher mais confiante?
Muito mais confiante! Era uma pessoa sem confiança própria e tímida, agora sinto-me confiante e segura dos meus objetivos.
Como é lidar com o preconceito?
Creio que todas as mulheres passam por isso, o patriarcado é muito forte em Portugal. As mulheres foram sempre vistas como inferiores fisicamente e intelectualmente, o machismo é dominante. Lidar com o preconceito é infelizmente uma realidade que vai sendo ultrapassada a cada dia que passa, com uma maior informação cada vez mais disponível. É um processo lento, que vai sofrendo reveses e vitórias.
Considera que na sociedade há uma melhor aceitação para lidar questões de género?
Claro que sim. As coisas estão a evoluir no bom caminho, embora haja sempre sectores da sociedade mais retrógrados que contestam essa evolução. Foi assim desde sempre. Como quando Galileu afirmou que era a Terra que girava em torno do Sol e não o contrário. Ele teve de se arrepender da sua afirmação senão morria na fogueira. Existem sempre sectores mais conservadores que receiam que o status quo seja alterado e que assim percam os seus privilégios. É muito importante haver visibilidade e inclusão. O pior inimigo de uma causa é a ignorância e a falta de informação, que levam ao medo. E o medo leva ao preconceito.
O amor vence o preconceito?
Talvez, não tenho a certeza.
É possível que alguém se apaixone, e essa paixão derrube barreiras.
Da minha parte considero que não, porque não seria capaz de me apaixonar por alguém que tivesse qualquer tipo de preconceito.
O preconceito é o pior juízo de valor que existe.
Maria João Vaz, Atriz e Artista Plástica
Comments