Lana Santucci, Quando a Moda Vence o Preconceito
Lana Santucci, transexual, brasileira e modelo de 24 anos, tem sido um fenómeno no mundo da moda desde de 2019, ano em que foi eleita para fechar o desfile da “À La Garçonne”, marca do prestigiado estilista Alexandre Herchcovitch, posou para publicações como Vogue Brasil, Vogue Portugal, Elle, Glamour e L'Officiel e participou no reality-show "Born to Fashion", exibido pelo canal E.
Formada em Negócios da Moda, Lana também já brilhou em campanhas de marcas de prestígio como M.A.C, Vivara, Paula Raia e Riachuelo, desfilou na São Paulo Fashion Week, onde foi reconhecida pelo prestigiado Bob Wolfenson.
Desfilando entre as apostas da WAY Model, Lana concilia as passerelles com campanhas com sensibilização, onde se destaca como palestrante, sendo requisitada por grandes empresas para falar sobre temas como a identidade de gênero e a importância da representação.
Quem é a Lana Santucci?
Sou uma pessoa muito forte e centrada, entrego-me de corpo e alma a tudo o que me pedem, sem pensar duas vezes, sem medo de julgamentos e sempre dou tudo que posso.
Sou transexual e travesti com muito orgulho e defendo os meus ideais.
Atuo como cantora, onde faço os meus espetáculos e sou apaixonada pelo Universo Geek (o universo dos super-heróis). Também sou mãe, de um animal (risos)!!
No fundo, considero-me uma mulher camaleão, multifacetada, multi-artista.
Dou o melhor de mim!
Qual o seu estado civil?
Sou casada; o meu marido também é trans. Vivemos um relacionamento transcentrado.
O que faz profissionalmente?
Trabalho como modelo na área da moda e também como comercial.
Como lida com o assédio das pessoas?
Lido bem e estou habituada a lidar com as pessoas e com as redes sociais. Como trabalho há mais de 6 anos com o Instagram e Youtube, tive que aprender a desenrascar-me e a defender-me.
Alguma vez sentiu alguma revolta dentro de si?
Sempre que não me entrego em alguma situação como no trabalho ou que sinta que não dei o meu melhor, aí sim existe uma revolta.
Considera-se uma mulher romântica?
Sou pouco romântica, mas adoro gestos de carinho!
Durante todo o processo de autodescoberta, teve apoio de amigos e familiares?
Tive a sorte de ter o total apoio da minha família neste processo todo de transição, sinto-me uma sortuda de ter este apoio até hoje.
Com que idade começou a reconhecer -se como mulher?
Comecei a questionar-me sobre a questão de transexualidade aos 19 anos e comecei de fato esta transição de género aos 20 anos.
Quando é que percebeu que podia esta mudança?
Tive essa noção aos 19 anos e como as amigas mais próximas eram transexuais, as nossas conversas giravam sobre o assunto da transexualidade e sobre a questão das hormonas.
Em algum momento se arrependeu da transição de identidade de género?
Não, nunca me arrependi.
Conseguiu mudar seu nome no Registo Civil?
Sim, os meus documentos são retificados há 5 anos.
Porquê escolha deste nome?
A escolha do nome Lana, a inspiração veio da cantora Lana Del Rey, sempre fui muito fã dela. Ela sempre me inspirou muito na sua feminilidade, gestos das mãos e na sua delicadeza.
Como se sentia antes da transição?
Era uma sensação estranha, e sentia que existia algo que faltava em mim, sentia um vazio enorme.
Ser transexual afetou a sua orientação sexual?
Não!
Como é ser uma mulher transexual no Brasil?
Uma desgraça! O Brasil é o país ainda que mais mata mulheres trans/travestis o que é de lamentar.
Sente preconceito quando anda na rua?
Sim, sinto e muito! Diariamente enfrento muitos olhares de julgamento.
Considera que no Brasil existem condições para ajudar pessoas transexuais, por exemplo, a nível de apoio psicológico e outras necessidades?
Existem algumas condições públicas, mas elas são muito escassas e pouco acessíveis.
Considera que a sociedade está a tornar-se mais aberta em relação à transsexualidade?
Não, estamos muito longe de conseguirmos um lugar onde as pessoas transexuais sejam realmente respeitadas e acolhidas. Temos que continuar a nossa luta, por tempo indefinido.
Quais conselhos que daria a quem está numa situação idêntica à sua?
Se você é trans e acredita que sua família seja preconceituosa, ou mesmo que não seja, espere ter independência financeira. O que mais acontece são pessoas trans sendo expulsas de casa. É melhor segurar um pouco a ansiedade do que cair na marginalidade.
Que conselhos daria aos pais que têm filhos transexuais?
Apenas amem, incondicionalmente.
O amor vence o preconceito?
O amor, desde que seja verdadeiro, é aquilo que nos apoia contra as violências diárias.
Lana Santucci, Modelo
Instagram:@lanamsantucci
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