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Foto do escritorLoveWithPepper

Isabel Medina, por detrás da representação



Isabel Medina, atriz, encenadora e autora portuguesa. Dirigiu e foi diretora literária da Companhia de Teatro Escola de Mulheres com Fernanda Lapa, tem trabalhado como atriz em teatro, cinema e televisão, exercendo paralelamente atividades de argumentista, dramaturga e encenadora.

Como atriz foi distinguida com o Troféu Nova Gente - Atriz Revelação – para a peça Sopinhas de Mel, encenação de Jorge Listopad e o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos para Melhor Atriz em Amadis, encenação de João Mota.


Nos dias de hoje, faz parte da Academia Portuguesa de Cinema.


Assume-se como uma mulher em constante busca e mudança. Uma mulher grata à vida, que cumpriu os seus sonhos e ainda tem muitos por cumprir. Setenta anos de curiosidade, desafios, conquistas, correndo como um rio, alimentando-se de amor, alinhando-se e desalinhando-se, procurando o seu centro, a sua conexão com o divino, encontrando-se, desviando-se, reunindo-se. A vida é uma aventura de descoberta e emaravilhamento, de emoções e de gestão delas. Tomar a vida em mãos e conduzi-la na direção certa, sem dramas nem queixume, com a certeza de que algo maior a habita e que “tudo vale a pena quando a vida não é pequena” como dizia o poeta. Do mar de possibilidades que todos somos, arriscar ser cada vez mais feliz nas escolhas que faz, é o objetivo da sua vida.


Nesta entrevista ao Love with Pepper abre o seu coração e conta-nos como é viver com mudanças fisiológicas e ausência de alguém.


Como se define como Avó, Mãe e Mulher?

O que é comum a esses três dos caminhos da minha vida, é o amor e a presença. Para além disso, o tempo vai inscrevendo novos paradigmas em cada um deles. Quando ainda a criança habitava em mim, e ela recusou a maturidade até bastante tarde, usava padrões e crenças que aprendera e que me formataram. Claro que a gestão das emoções não era fácil, o julgamento e crítica ainda ocupavam espaço, o apego ditava as suas regras e a projeção e os medos reinavam. Todo esse desalinhamento provocava conflito interno e mesmo externo. Um processo de crescimento não é fácil. Mas finalmente a maturidade chegou com muita busca do que é isto de se ser humano.

Por isso, o que sou agora não reflete nunca todas as etapas por que passei. Mas sei que dei sempre o meu melhor. Que errei e aprendi. Que como avó, sou uma muito melhor versão do que fui como mãe. E estou grata a todas as minhas outras versões, porque me trouxeram até o que sou agora. E mais tarde estarei grata a esta porque até partir deste planeta, sei que estarei sempre a evoluir.



Considera-se uma Mulher feliz e realizada?

De tudo o que disse antes, claro que me sinto, a maior parte das vezes, plena e confiante. Porque já não dependo de reconhecimento exterior, mas apenas do meu. Porque posso escolher o que é melhor para mim sem qualquer medo do que os outros pensam ou esperam. Porque me tornei responsável por quem sou e assim consegui a minha liberdade interior. Porque a vida é magia quando alinhamos com a nossa essência. E viver assim é fruição e é uma bênção.


É romântica ? E ciumenta?

Não sei bem o que é ser romântico. De acordo com o ciclo histórico do romantismo, é criar uma realidade ilusória e “morrer por ela”. Nunca me reconheci nisso. Mas vivi-o. Fui formatada com histórias de príncipes encantados e isso imprime uma crença. O meu primeiro casamento foi a busca disso. No entanto, uma realidade que não tem terreno fértil, não perdura. É uma aprendizagem empreender o caminho da liberdade. Cada desafio ultrapassado com verdade, é um salto imenso para o encontro connosco, para a nossa libertação.

O ciúme também fazia parte de mim e de uma forma excessiva. O apego, a dependência, a necessidade de ser amada pelos outros, o medo de sofrer, o medo da perda, fizeram parte do meu percurso. Reconhecer a vulnerabilidade que nos leva a tentar encontrar fora de nós a segurança, levou alguns anos. Reconhecer o meu próprio poder, que apenas eu e mais ninguém tinha o poder da segurança e do amor na minha vida, foi uma das minhas maiores conquistas. A partir do momento em que me libertei de procurar nos outros o que existe em mim, as sombras desapareceram. Sou muito mais útil aos outros agora e sei amar sem condições. Mas o caminho foi longo.


Como define a palavra Amor?

Amor é a rede e a vibração que nos conecta a todos, e só não vive em Amor quem não está atento à vida.


Como é lidar com a perda?

Lidar com a perda, depende na altura que se perde e de quem se perde. As maiores perdas que tive foram a do meu Pai , ainda era miúda, depois foi a da minha Mãe e a do meu marido Luís. Acontece que o Luís preenchia um espaço enorme dentro do meu coração, e quando ele partiu instalou-se um vazio. Esse vazio vai sendo preenchido com memórias. Estive com ele 30 anos, uma vida em comum , uma vida partilhada. Agora é um renascimento, a criação de uma nova realidade. Um novo caminho.


Como se faz o luto de quem se ama?

A palavra luto era uma palavra que desconhecia e que não esperava que me batesse à porta tão cedo. Sei que vai morar em mim durante uns tempos. Tive de criar uma nova vida com a perda, fazer uma despedida e um reencontro. Mas tive que fazer obrigatoriamente o luto, porque não abraçar a dor, fugir dela, não resolve nada. Só adia.


É possível voltar amar depois da perda?

Neste momento ainda estou a reencontrar-me, e a redescobrir-me aos poucos. Recordo-me que, logo a seguir à partida do Luís, não percebi muito bem o que se estava a passar. Estive sempre muito ocupada com a escrita dos “Novos Confessionários”, a montagem e a encenação do espetáculo, depois o lançamento do meu livro. Também com a família, em especial com os meus netos. Foi quando parei que me apercebi que a minha vida tinha mudado. Portanto, neste momento, apenas quero recriar-me. Claro que o amor faz parte. Vivemos naquilo a que chamei “uma rede de amor”. E ele tem tantas formas. Não apenas entre dois seres. Neste momento, bem precisamos de Amor. A humanidade está em mudança e é o Amor que nos sustém.



Como lidou com a entrada na menopausa?

Lidei muito bem com essa nova etapa na minha vida, porque não tive qualquer crença em relação à menopausa. Também tive uma vida bastante equilibrada em todos os aspetos. Ainda existe medo por parte de algumas mulheres em relação à menopausa, mas há que agir com naturalidade. Faz parte de um processo natural. Muitas vezes assustam-nos com a perda de libido, a mudança do corpo, o envelhecimento. Se acreditamos, então tudo se torna um problema. Se abraçamos essa fase com normalidade, ela não é diferente de qualquer outra.


O seu corpo alterou pós menopausa?

Apenas engordei um bocadinho, depois recuperei , voltei ao normal.


Quais as diferenças que sentiu?

As diferenças que senti foram só a nível de suores noturnos, quando estava a dormir. Não durou muito tempo.


E ao nível de desejo sexual e a libido?

Não senti nada nesse campo, continuou tudo como era. Imagine se isso afetasse a libido. Há mulheres com menopausas prematuras, por volta dos 45, a chamada idade da loba, de grande poder sexual. Apesar da menopausa, elas continuam com a libido no seu melhor, e ainda bem! Como referi antes, são crenças que nos limitam. Até porque convém às farmacêuticas. Como sabe, o negócio dos medicamentos é um dos negócios mais rentáveis do mundo. Criar medo e lançar crenças é o que estão sempre a fazer. Há que vender, não é? Não nos deixarmos levar pelo marketing farmacêutico é fundamental.


Procurou alguma ajuda de um profissional?

Não, porque não senti essa necessidade e estava tão bem comigo própria.


O que aconselha a qualquer mulher que entra na menopausa?

A vida é um caminho, um processo. Vivê-la no seu melhor é uma escolha. Não aceitarmos tudo o que ouvimos dos outros, mas ouvirmos o nosso próprio corpo é uma boa atitude. Estarmos atentas a nós, aos sinais que a vida nos vai dando. E termos poder sobre o que fazemos, não delegá-lo ao exterior, também traz bons resultados. Acreditar em nós é, para mim, uma forma inteligente de viver. Acreditar que não é o exterior que nos comanda, mas que, melhor do que ninguém, o nosso corpo sabe o que é melhor para ele. Isto não só em relação à menopausa, mas todo o caminho de Vida que nos cabe percorrer.


O sexo é melhor , pior ou diferente com o avançar da idade?

É diferente, não com a frequência que era antes, não com a intensidade de que se revestia. Mais calmo, mais “saboreado” com outros sentidos. Mais pleno, talvez. No sentido em que já não é uma urgência dos sentidos, mas a vontade de uma ligação total, mais forte.


Sente que ainda existe tabu em falar no desejo da mulher mais velha?

O tema da sexualidade ainda é um bocado tabu na nossa sociedade, mas no meu grupo de amigos, felizmente, não existem tabus em relação a qualquer tema. O tabu também está ligado a padrões e crenças, muitas vezes a dogmas instituídos e que aceitámos como bons. Ora, quando fazemos um trabalho de autoconhecimento e libertação do que nos limita, percebemos que não existem temas proibidos. Não somos seres manietados. Trabalhamos para ser livres e esse trabalho é interno. Assim, não há medo de falar e questionar seja o que for. Desde que seja com verdade, com a nossa verdade. Respeitando sempre a do outro, claro.


Como é amar depois dos 60?

Eu continuei amar o mesmo homem. Portanto só posso falar do que vivi. Quando nos conhecemos há mais de 30 anos, fomos construindo a nossa relação. Tudo começou por paixão, amor e sexualidade. Com o tempo, a paixão pode esmorecer, mas criam-se outros estímulos, o amor cresce, e o conhecimento do outro também. Recriar a nossa realidade sexual é sempre aconselhável, para que o sexo nunca entre na rotina. Creio que é um dos segredos de uma relação longa.



O amor ajuda a ultrapassar as dificuldades da vida?

Claro que sim, o Amor conecta tudo e todos. Porque amar é saber que o outro não é uma projeção nossa. Não é o que gostaríamos que fosse. Muitas vezes aquilo que nos atrai no outro, é exatamente o que não é igual a nós. Só que a tentação de mudá-lo e “moldá-lo” à nossa imagem pode ser grande, e acaba por destruir a relação. Amar é, acima de tudo, compreender, respeitar, honrar as diferenças, partilhar. Se não o for, mais vale cada um seguir o seu caminho.


O amor cura?

O Amor cura, sim. O amor por nós próprios é o melhor medicamento de que dispomos para nos tratarmos e tratar os outros. Só quem se ama pode amar o outro. E o amor pelos outros, é o melhor que podemos oferecer.


Isabel Medina, Atriz, Encenadora e Autora Portuguesa





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