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Fuck You Cancro, por Madalena Bicho




Madalena Bicho, 37 anos, casada, Mãe de 2 filhos e jurista. Desde janeiro de 2023 que luta contra um cancro colón retal com metástases no fígado e ovários.

No diagnóstico do seu cancro não teve sintomas relacionados e afirma que esta doença é silenciosa, mas quando lhe disseram que tinha cancro ela já tinha 10 metástases.

Apesar de usar saco, presume que não seja definitivo e que só o vai retirar quando fizer a reconstrução do intestino, mas ainda não há previsão disso. Para o tirar terá que estar 6 meses sem fazer quimioterapia. Afirma que o melhor que lhe trouxe o saco foi o ir às casas de banho publicas sem preocupações e o pior é devido a um colapso no intestino e não poder fazer qualquer tipo de esforços e o ser dependente do seu marido, para o limpar, mudar e o odor que sente em si, mas que é normal.

Nesta luta ela agarra-se à vida e à sua boa base familiar,  aos seus filhos, ao seu marido e a sua família, para vencer estas batalhas contra o cancro e para estar o mais tempo possível cá para os apoiar. Mas não é uma mulher de fé.



Esta mulher apesar de muitos ciclos de quimioterapia tem um positivismo e acredita que a cura para o cancro seja a capacidade de ter uma mente positiva e o positivismo acompanhar sempre estas pessoas.

Criou uma página no Instagram: fuck_you_cancro porque as pessoas vêm esta doença como uma sentença de morte, quer no diagnóstico, quer nos tratamentos, quer nos exames, quer na luta, mas apesar de se ter cancro consegue-se ter uma vida normal e ser feliz.

Nesta entrevista ao Love with Pepper, Madalena abre o seu coração e numa conversa sem tabus fala-nos de como é a sua sexualidade após a descoberta de um cancro que mudou a sua aparência física e sexual.


Para si o que é o cancro?

O cancro para mim é um irmão gémeo meu que estava guardado dentro de mim e decidiu acordar em que mexeu comigo, quer no psicologico quer na parte física. Neste momento fazemos uma vida em conjunto, está sempre a chatear-me e obriga-me a fazer quimioterapias muito fortes para o combater.


Como se reage a um cancro?

No dia que me foi dito que tinha cancro fui-me um bocadinho abaixo e chorei durante 5 minutos, mas depois acabou-se a tristeza e fui à luta!


Para si o que foi pior no seu diagnóstico?

Foi ter conhecimento que tinha metástases no fígado, porque se só fosse no intestino e nos ovários era só fazer cirurgia e umas sessões de quimioterapia e limpava.


Como foi ouvir a palavra ostomizada pelo médico?

Não sabia o que era. O saco foi colocado quando fui operada de urgência, porque tinha o meu intestino todo obstruído. Quando acordei vi que tinha o saco na minha barriga e não foi muito agradável. Foi complicado. Ainda não consegui fazer as pazes com ele.


Como foi o antes e pós cirurgia?

O antes foi normal, mas o pós foi um choque. Depois de uma semana de internamento, não tinha dores, mas não me virava na cama com medo que o saco rebentasse. Também foi horrível a questão do barulho dos gases em que não tinha controlo nenhum. É engraçado fui operada em 5 de junho de 2023 e ainda não vi o meu intestino, mas já vi o dos outros doentes.


Como vê, sente e lida com o seu corpo depois de ter o saco?

Não gosto muito do que vejo, porque ganhei peso, fiquei com a barriga aberta e o intestino passou para cima, mas estou sempre a olhar para me ir mentalizando que durante uns tempos vai ser assim. As transformações do meu corpo estão a ser complicadas, mas tenho que saber lidar.





Quais as suas preocupações, angústias e problemas relativos às vivências da intimidade, afetiva e sexual?

No início foi difícil, porque eu tenho o meu marido que me tem como esposa, que tem que se sentir atrativa, sensual e de um momento para o outro ele vê-me de saco, debilitada e isso mexeu com tudo, principalmente com a parte íntima. No começo, como ele tratava de mim, eu mantinha um bocadinho a distância na cama, porque não sabíamos lidar muito bem com o saco. Depois fomos aos poucos e quando estamos no ato em si, ainda não consigo tirar a parte de cima, porque faz-me confusão ele tocar-me.  E a parte do ovário que tanto incha e desincha, dá muitas dores, para além da quimioterapia que tira a libido toda.


De que forma é que o saco lhe afetou a autoestima?

Acho que só me afetou duas  vezes que foi quando ele rebentou e na altura disse que bati no fundo. A questão do peso afeta mais do que o saco.


Como é a sexualidade de um ostomizado?

É igual, tirando a parte do prazer que é menor e demora-se muito mais tempo a chegar ao orgasmo e tem-se que usar sempre o lubrificante. No meu caso, devido ao colapso do intestino também não posso aventurar-me a certas posições. O sexo é diferente, mas acaba por ser bom de outras formas.


Na altura que foi ostomizada achou que fosse o fim da sua vida sexual?

Nos primeiros tempos após o diagnóstico pensei que sim e quando coloquei o saco foi um recomeço não muito simpático.


Tem conhecimento que muitas mulheres são abandonadas nesta fase de tratamentos. Tem apoio do seu marido?

Sinto-me a pessoa mais feliz do mundo, porque o Tiago apoia-me em tudo. Chegamos a falar disso, porque ouço muito sobre o  abandono nos tratamentos, mas como eu sempre tive uma boa relação com o meu marido acho que o cancro até nos aproximou mais.  Ele preocupa-se mais com o cancro do que eu!



Considera que a sexualidade no cancro pode ser uma forma de terapia que ajuda no processo de recuperação deste?

Não lhe consigo responder, porque fiz sexo poucas vezes e a questão do ovário está a afetar na vida sexual pela dor que causa. Mas para mim o mais importante é sentir que ele esta cá para os cafunés, sentir a presença dele, fazer-me sentir segura. Mas a parte sexual também é importante.


Hoje sente-se uma mulher segura a nível sexual?

Sim, gostava de o fazer mais! Só não o faço pela dor que sinto a fazer.


Como é viver com cancro?

Viver com cancro é viver com tudo e todos preocupados connosco. É uma alteração brutal na nossa vida, desde do diagnóstico, exames, cirurgias e tratamentos, e isso fez com que me tornasse mais calma, compreensiva e tolerante com os outros.


Neste processo de cura tem apoio psicológico?

Nos primeiros meses sim, mas depois senti que não necessitava mais e a minha psicóloga também concordou comigo. Neste momento tenho um grande apoio no hospital, casa e acabo por me sentir muito amada e amparada no combate.


Como vê o futuro?

Só vou começar a ver o futuro quando me disserem que estou curada, até lá é um dia de cada vez!


Sexualmente realizada. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?

Sim, concordo. Porque tenho uma vida mesmo feliz dentro das minhas limitações e apesar destas sinto-me uma pessoa sexualmente realizada sem dúvida.


Apesar de todas as adversidades da doença o sexo é bom?

É bom, só tenho pena de não conseguir ter mais prazer e o que faço é maravilhoso!!!(risos)


Lê-se e ouve-se muito na frase “o AMOR cura”, concorda?

Não concordo. Para mim, o Amor não cura nada. O que cura são os tratamentos e a força de vontade e uma boa base familiar e às vezes nem isso chega.


Madalena Bicho, Jurista

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