E quando o sexo dá dor?
A dor é difícil de explicar, é subjetiva e é muitas vezes subestimada na prática clínica. Sobretudo a dor das mulheres. Se formos falar em termos culturais, é comum assumirmos a dor como um fado. É assim, é o destino. “Mas o meu fado é não ter fado nenhum” e, portanto, senhoras, perante uma dor façam-se ouvir!
E perante uma dor sexual, façam-se ouvir ainda mais!
Este fado não pede silêncios.
Cerca de metade das mulheres que procuram ajuda por dor não recebem um diagnóstico formalizado. Isto significa qua a causa fica muitas vezes por tratar e o problema irá persistir.
A dor genito-pélvica caracteriza-se pelo seu ciclo vicioso: o corpo antecipa a dor, os músculos pélvicos contraem-se, a contração torna o sexo doloroso e a penetração pode ser difícil, evitamos a intimidade e continuamos a recear ter dor.
A dor durante o sexo tem o nome de Distúrbio de Dor Genito-pélvica e da Penetração (DDGPP) e classifica-se como uma dor persistente e recorrente, com pelo menos 6 meses de evolução, caracterizada por pelo menos um dos seguintes:
Dificuldade na penetração/ relações sexuais vaginais;
Dor durante a relação sexual ou tentativa de penetração vaginal;
Medo de dor;
Tensão e compressão na musculatura pélvica.
Tipos de dor:
Vulvodinia: dor na área vulvar;
Dispareunia: dor durante a penetração;
Vaginismo: contração involuntária dos músculos do pavimento pélvico dificultando ou impedindo a penetração.
A dor pode surgir antes, durante ou após a relação.
Nota: A dificuldade em isolar cada um destes tipos de dor e o fato de causarem as outras (vaginismo dá dispareunia e vice-versa), levou a que se formulasse ma definição para a sua junção, e, por isso, hoje tem o nome DDGPP.
Os DDGPP afetam entre a 14 a 34% da mulheres pré-menopáusicas e até 45% das mulheres pós-menopáusicas.
A dor vulvo-vaginal pode ter impacto negativo na mulher e no parceiro(a), a nível psicológico e sexual, podendo interferir com o bem-estar pessoal e da relação.
Causas físicas:
Dor superficial (vulva e parte inicial da vagina) : Vulvovaginite, Infeção, Distrofia vulvo-vaginal, Diminuição da lubrificação; Pavimento pélvico hipoativo; Episiotomia; Nevralgia; Trauma( ex: mutilação); Líquen/ escleroso; neoplasia.
Dor profunda: Endometriose; Quisto ovárico; Doença Inflamatória intestinal; Atrofia vaginal; Latrogenia (provocada por tratamentos como cirurgia ou radioterapia)
Causas psicossexuais e da relação:
Medo;
Ansiedade e stress;
Problemas com o parceiro (separação emocional, desconfiança, medo de compromisso, receio da vulnerabilidade);
Eventos traumáticos (abusos sexuais, memórias reprimidas, testemunha de violência ou abuso);
Experiências de infância (educação rígida, crenças religiosas denegridoras do sexo, ausência de educação sexual.
Tratamento:
O tratamento depende da causa subjacente e pode envolver cirurgia, tratamento farmacológico ou hormonal, fisioterapia pélvica, modificações alimentares, aconselhamento sexual e/ ou intervenção psicológica.
O importante é não desvalorizar a dor genito-pélvica e procurar ajuda especializada!
Duas notas muito importante:
Os homens também podem ter dor associada à relação sexual. No entanto, a temática é abordada tendo como foco a dor nas mulheres (pessoas com vulva);
Academicamente, os DDGPP incluem apenas a dispareunia e o vaginismo. Neste documento também foi incluída a vulvodinia.
Os distúrbios de dor genito-pélvica e de penetração devem ser sujeitos a avaliação médica dadas as suas múltiplas causas e complexidade no diagnóstico e tratamento.
Dra. Mafalda Cruz, Medicina Sexual
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