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Desmistificando a Homossexualidade, por Dra. Gabriela Moita



Dra. Gabriela, formada em Psicologia Clínica há cerca de 30 anos, com doutoramento sobre o “discurso de clínicos sobre a homossexualidade”, é especialista nas seguintes áreas da psicologia: psicoterapia, terapia sexual e de casal, psicodrama.

Trabalhou muitos anos na área da educação no ensino superior, neste momento dedica-se exclusivamente à sua clínica,

Nesta entrevista, a Dra. Gabriela, aborda o tema da homossexualidade e esclarece dúvidas e mitos.


O que é a sexualidade?


A sexualidade é uma componente da relação entre as pessoas, somos seres sexuados e toda a relação humana integra os afetos, as expectativas, o desejo, a compreensão do outro, o toque. Em suma: a sexualidade é uma componente da comunicação entre as pessoas.


E a orientação sexual?


Até aos dias de hoje a orientação sexual é definida pelo género das pessoas envolvidas na relação romântica e/ou sexual. Claro que esta nomenclatura se passa dentro de um mundo que considera apenas a existência de dois géneros, aquilo que é chamado o binarismo de género: que tem a ver com o que chamamos de homem e mulher, de masculino e feminino. Assim, dentro deste modelo, as pessoas poderiam ser consideradas heterossexuais, homossexuais e bissexuais.


Podemos escolher a nossa orientação sexual?


O que sabemos até ao momento é que não escolhemos as emoções que sentimos pelas pessoas.

Não temos capacidade de decidir o sentido do amar e/ou do desejo sexual. Não somos capazes de decidir que temos aquele sentimento por aquela pessoa ou que não temos o sentimento que queríamos Não conseguimos decidir o desejo que temos. Podemos, com muita dificuldade (às vezes até à impossibilidade) decidir o que fazemos com o desejo que temos.

Veja-se o peso do tema da dor dos amores proibidos ou não correspondidos, na literatura, a nível mundial.


Às vezes amamos e/ou desejamos pessoas que não gostaríamos de amar e/ou desejar, outras vezes seria muito bom amar e/ou desejar pessoas que não se ama e/ou não se deseja. Outras vezes estamos em tranquilidade e vivemos com alegria estas emoções


Qual a diferença entre orientação sexual e identidade sexual?


A orientação sexual diz respeito, como foi dito acima, à relação entre o género das pessoas envolvidas numa relação (homossexual, heterossexual, bissexual – dito de uma forma muito básica). A identidades sexual integra tudo que nos define como seres sexuados sexo biológico (genótipo e fenótipo), identidade de género (homem cis, mulher cis, homem tran, mulher trans, pessoa não binária, pessoa agénero), papeis sexuais ou de género (comportamento esperados socialmente associados ao género a que se pertence).


O que é a Homossexualidade?


A homossexualidade é definida como a atração sexual ou romântica por pessoas do mesmo género.




Nos dias de hoje, e a maior parte da nossa sociedade considera que a homossexualidade é uma doença ou uma doença mental. Em termos científicos o que é a homossexualidade?


Está fora de questão ser uma doença.

Numa elementar perspetiva histórica podemos observar que, durante muitos anos, as pessoas que não se comportavam do ponto de vista da vida sexual ou romântica como era esperado eram consideradas pecadoras. Depois foram consideradas criminosas, e por fim, a partir da segunda metade do séc. XIX, com a emergência da Ciência Médica, foram consideradas doentes.

Felizmente, desde de 1973, nos Estados Unidos da América, esse conceito de doença ligado às escolhas pessoais foi eliminado. Na Europa levou um pouco de mais tempo a ser tomada essa decisão. A Organização Mundial de Saúde apenas em 1990 retirou dos manuais de doença mental, o conceito de homossexualidade como doença.


Como falar com a família, no caso de ser um homossexual?


Convém perceber a relação da pessoa com a família.

Felizmente as pessoas estão cada vez mais informadas. As sociedades europeias têm evoluído. O preconceito, e com ele o silêncio, tem vindo a ser quebrado. Há vias fáceis de informação. Livros, informação na internet, Associações de defesa dos direitos de pessoas com orientações não normativas. Associações de pais de pessoas LGBTQI+ - a Amplos, todos estes contactos podem ajudar.

Ter sentimentos por alguém do mesmo sexo faz dessa pessoa homossexual?


Não percebo a sua questão.

Se o que pergunta é se o que define a orientação sexual de uma pessoa são os sentimentos românticos e sexuais e não a prática, respondo que sim. É isso exatamente.


O que leva a gostar de pessoas do mesmo sexo?


A pergunta deverá ser o que nos leva a gostar das pessoas que gostamos. A ciência ainda não tem resposta para esta pergunta. Há algumas hipóteses explicativas, mas ainda nenhuma validada, em relação a relacionamentos de qualquer tipo: heterossexual, homossexual ou bissexual.


As pessoas homossexuais podem ser bons Mães e Pais?


A capacidade de parentalidade não tem nada a ver com a orientação sexual. O facto de se ser homossexual não tem qualquer relação com as competências pedagógicas das pessoas, nem com a orientação sexual futura dos filhos/as (que é afinal, infelizmente, aquilo que faz questionar a parentalidade de pessoas homossexuais por parte daquelas pessoas que têm qualquer resistência/incompreensão/preconceito em relação à homossexualidade). Se assim fosse não teríamos pessoas com orientação homossexual: a maior parte das pessoas homossexuais foi educada e cresceu com pais heterossexuais.


São reconhecidos pela forma física e a forma de agir?


Não.

Não há qualquer relação entre a forma física e comportamentos e a orientação sexual. O que existem são muitos estereótipos relacionados com o ser homem, ser mulher, ser masculino, ser feminino, ser homossexual, ser lésbica ou ter uma identidade de género não cisnormativa.


As pessoas homossexuais e bissexuais correm mais risco de ter problemas de ter problemas psicológicos?


As pessoas não têm problemas psicológicos porque são homossexuais, lésbicas ou bissexuais, têm problemas porque são excluídas, agredidas, muitas vezes até à morte, por muitas pessoas na nossa sociedade, ou seja, não é um problema delas é um problema de todos nós. Por esta agressão correm riscos: de vida, de exclusão e mau trato e, naturalmente, de terem por tudo isso, problemas psicológicos.


Os relacionamentos entre os adultos e adolescentes do mesmo sexo poderão levar a homossexualidade?


Dos estudos existentes até então sabemos que não existe uma causa para qualquer orientação sexual.

Porquê que quando se fala em abusos sexuais, associa-se à homossexualidade na maior parte das vezes?


O que acontece, é que mais comumente os abusadores são homens e abusam quer de rapazes, quer raparigas.

O que acontece é que ligando o conceito hediondo de abuso a um outro conceito (neste caso homossexualidade) este segundo torna-se igualmente hediondo. É um processo conhecido e estudado pela psicologia social, para se construir uma imagem negativa.


É verdade que a maioria dos homossexuais são portadores de HIV/SIDA?


É sabido que a SIDA, nos anos 80, teve uma maior prevalência na população de homens que tinham sexo com homens, e desenvolveu-se na 1ª fase com muita intensidade. A realidade atual é bem diferente e tem muitas nuances entre grupos populacionais.


O que fazer para lutar o preconceito?


Existem muitos autores que referem que é mais difícil desfazer um preconceito do que um átomo e, ao que parece, desfazer um átomo é muito, muito, difícil.

Felizmente, nós em Portugal, temos lutado muito contra este preconceito, com informação, conhecimento, constituição de muitos movimentos que se têm dedicado a disseminar informação e proteger as pessoas de atos agressivos. De referir e louvar também a abertura das próprias pessoas não heterossexuais. Muitas pessoas homossexuais e bissexuais, mesmo correndo risco de vida, tiveram a coragem de expor como vivem a sua sexualidade, mostrando que não são aquilo que o preconceito quis fazer delas. Mostrando que essa, considerada tão grande, diferença afinal não tinha implicação na qualidade humana das pessoas, como o preconceito pretendeu fazer crer.

Trabalhos como o seu são também momentos de informação, que permitem compreender e integrar o, considerado, diferente sem medo. Muito obrigada


Dra. Gabriela Moita, Psicóloga Clinica


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