Cozinha com amor e a sexualidade
Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudável
Quer seja na nossa imaginação, no cinema ou na vida, em diversos momentos, conseguimos estabelecer uma relação próxima entre sexualidade e comida.
Cozinhar pode ser sexy e a comida pode revelar-se quase “orgâsmica”.
Um encontro pode ser marcado com o pressuposto de um jantar. Um jantar pode desencadear mais do que um encontro.
Há aqueles que se sentem atraídos por alguém que cozinha, que lhes prepara um repasto com a dedicação e o carinho que merecem.
Já escrevia Mia Couto no seu conto ‘A avó, a cidade e o semáforo’, em “O Fio das Missangas”:
“Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Quem assegurava a pureza da peneira e do pilão? Como podia eu deixar essa tarefa, tão íntima, ficar em mão anónima? Nem pensar, nunca tal se viu, sujeitar-se a um cozinhador de que nem o rosto se conhece.
– Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela. – Cozinhar é um modo de amar os outros.”
De facto, quer a comida/cozinhar quer o amor/sexo são mote de paixão e algo nos atrai para cada um deles.
Podemos encontrar entre os mais diversos frutos inspiração sexual como, por exemplo, os figos, os morangos, a banana. Remetem a mente a fazer paralelismo com a anatomia quer do homem quer da mulher.
Tantos outros são considerados afrodisíacos como as ostras, a canela, o chocolate, o gengibre e as malaguetas.
A ciência assim o comprova. Há, na realidade, nos alimentos substâncias que produzem hormonas como a serotonina, dopamina, oxitocina e endorfina, conhecidas como as hormonas da felicidade.
Há quem se deleite com preparações cremosas, oleosas e melosas imaginado-as sobre o corpo do seu amado ou amada.
A comida e uma relação afetiva estarão sempre ligadas. São dois princípios básicos da existência dos seres humanos: comer e sexo.
São necessidades naturais, fisiológicas.
A partir de determinada idade e atingindo uma relação mais impactante, surgem convites para jantar num restaurante que vai impressionar pela comida, pelo ambiente, idealizando um momento romântico.
Alternando-se com o jantar na casa um do outro em que cada um demonstra os seus dotes culinários para conquistar o seu amor.
E é assim que muitos romances começam: à mesa.
A alimentação sempre foi e será mais do que a ingestão de nutrientes. É social e cheia de simbolismo.
A comida é cultura. Festividades são celebradas com repastos, com oferendas a santos, bancas a vender o doce típico da região. Restaurantes enchem-se com o seu melhor prato. Famílias que se juntam em casa para celebrar o amor que os une. A comida é ou não amor?
Já no tempo dos romanos se relacionava comida com sexo, remetendo-nos para as grandes orgias daqueles tempos.
Já devem ter ouvido o termo “Food Porn” como comparação da comida à pornografia. Sem pensarmos muito é uma analogia fácil. Com tantos programas de cozinha, aspirantes a cozinheiros e a cozinheiras, livros com fotografias de comida cheias de cor e brilho que quase conseguimos sentir o cheiro, sabor e textura. As papilas gustativas entram em funcionamento e é desencadeada uma vontade de querer o que vemos, por vezes, inalcançável. O desejo do proibido, do impossível, do excesso, do inacessível.
A comida é sedutora. Apela aos sentidos. É vibrante. Reconforta e abraça-nos. Serpenteia-nos o corpo, a mente e a boca.
A comida pode ser mágica assim como o sexo.
Lígia Santos, 1ª MasterChef Portuguesa
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