Carla Luz, A Guerreira de Pele Queimada
Foto: Programa da Cristina
Carla Luz, 49 anos, divorciada, Mãe de dois filhos e cabeleireira. Considera-se uma pessoa simples, humilde e batalhadora. Esta mulher é um milagre, porque sobreviveu a um acidente com várias explosões, devido a fugas de gás, no Bairro da Vista Alegre, em Évora, incluindo no salão de cabeleireira onde Carla trabalhava e que ficou completamente destruído e, por conseguinte, sofreu queimaduras em mais de 60% do corpo.
Acredita que hoje é uma mulher com mais confiança e resiliência e, também, que o dia de amanhã será sempre melhor e frisa que é o renascer das cinzas.
De um dia para o outro, viu a sua vida virada do avesso, mãe de dois filhos, decidiu contar a sua história através de um livro “A guerreira de pele queimada”, que procura ser um conforto e estímulo para todos, deixando neste sobretudo uma mensagem de esperança.
Carla Luz é um testemunho vivo de coragem e de como é possível ser feliz, apesar de todas as adversidades.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, fala-nos como tem sido a sua recuperação após ter sido vítima desta explosão e da forma como alterou a sua autoestima e, também, que o amor é o ingrediente fundamental para uma recuperação.
Como nasce o livro “A guerreira de pele queimada”?
O livro nasce porque toda as pessoas diziam que tinha que contar a minha história e numa conversa com um amigo escritor este desafia-me, então nasce a “guerreira de pele queimada”.
Qual o seu refúgio, porto de abrigo?
O meu refúgio é o desporto e o meu porto de abrigo são os meus filhos e os meus amigos, em que o Amor nunca falta.
Para si o que o é ser uma Mulher queimada?
Ser uma mulher queimada, é ser ainda mais forte, a luta que temos todos os dias contra o preconceito, onde o olhar dos outros é, por vezes, mais doloroso que as nossas cicatrizes. Sinto que a dor na alma dói mais que a dor física devido a esses olhares de compaixão e essa dor física durou cerca de 4 anos com dezenas de cirurgias.
O que aconteceu no dia fatídico?
Dia 10 de Janeiro de 2008 sofri uma explosão de gás, pelo que fiquei com 60% do corpo queimado e queimaduras de 2º e 3º grau.
Do que se lembra?
Recordo-me de tudo antes e como se deu a explosão. No momento que se dá a explosão vejo uma bola de fumo e de ser engolida por esta e senti o meu corpo todo a arder. Tomei a opção, de não me olhar ao espelho, porque tinha a certeza que ia ver que estava diferente e fiz essa escolha conscientemente. Apenas não me recordo quando estive trinta e nove dias em coma induzido.
Sendo a Carla, uma mulher ligada à estética e beleza da mulher, e que cuidava da sua imagem, o que lhe afetou mais?
Sendo ligada a estética era uma luta constante comigo mesma e todos os dias acreditava que ia ficar melhor. Deus tinha-me dado esta missão, abrir mentalidades, somos muito mais do que caras bonitas.
O meu rosto foi reconstruído, praticamente todo, só os olhos eram os meus e a cana do nariz.
O que sentiu quando se viu a primeira vez ao espelho após este acidente?
A primeira vez que me vi ao espelho, jamais vou esquecer, senti-me um monstro e recordo todos os pormenores. Nesse momento, estava a procurar-me naquele espelho, e a tinha a noção que a pessoa que estava à procura estava ali, foi muito cruel e pavoroso o que senti.
Era casada na altura deste acidente, alguma vez teve receio por parte do seu marido que a abandonasse?
Nunca tive esse pensamento à cerca do meu marido, sabia que ele me amava e, além disso, existia e sentia muito amor e esse foi o suporte essencial.
Como reagiu a seu companheiro a ver a sua fisionomia pós acidente?
O meu marido foi a pessoa mais presente em todo o meu internamento, nunca senti o olhar dele ser diferente para mim. Dizia muitas vezes que me amava e que só queria que eu estivesse viva.
O que era mais importante para si?
O mais importante era realmente eu estar viva e o acreditar que não ia ficar assim, o amor das pessoas que me rodeavam e o olhar dos meus filhos é o que faz vale tudo a pena.
A sua parte sexual foi afetada e era importante?
Felizmente, não queimei as minhas zonas íntimas, mas o meu corpo estava diferente.
O que mudou em termos sexuais, a libido o desejo?
A relação sexual foi uma adaptação entre o casal, mas foi muito tranquilo, porque quando existe diálogo, compreensão e reciprocidade tudo corre bem, e o desejo sexual está lá.
Alguma vez rejeitou o toque depois do acidente?
Nunca rejeitei o toque, o meu marido tinha muito receio de me tocar, tinha mesmo medo de me magoar.
Não querendo ser muito invasiva, como foi a sua primeira vez pós acidente?
A nossa primeira vez, simplesmente maravilhosa, mas só aconteceu passado seis meses, depois de ter um trabalho muito bem feito entre casal.
Qual foi o seu maior receio?
Não tive grandes receios, sentia-me amada e a força que eu tinha e com o amor, não existiam medos.
Nos dias de hoje que sentimentos alojam dentro de si?
Hoje, sinto que sou uma mulher muito amada e desejada e, como tenho referido ao longo da entrevista, o amor que eu recebo e recebi de todos é o ingrediente essencial para que o sentimento que aloja dentro de mim seja amor.
Como é que um amor sobrevive a esta tragédia toda?
O amor sobrevive se tiver a capacidade de duas pessoas caminharem na mesma direção, no meu caso sobreviveu durante sete anos.
É fácil voltar a amar depois de um divorcio?
Não é fácil amar novamente, depois de se viver um grande amor. Mas continuo a acreditar que algo bom pode acontecer. E nunca devemos desistir de nós próprios.
Qual a diferença da Carla do antes e dos dias de hoje?
Hoje sou uma mulher bastante diferente, mais confiante, mais forte, lutadora, que nunca desistiu e também nunca tive a necessidade de me esconder porque toda a gente me tratava com tanto carinho, sentia que estavam comigo, que queriam a minha cura e recuperação, e daí pensava que não podia desistir a desapontar ninguém e, também, esta resiliência toda vem do amor que tive e tenho.
Qual o seu maior ato de amor?
O maior ato de amor é deixar a pessoa que casou comigo ser feliz e seguir a vida dele.
Sexualmente realizado. Vida feliz. O lema do blog Love with Pepper, concorda com o lema?
Concordo plenamente com a frase. Quando estamos realizados sexualmente somos muito mais felizes.
O amor cura?
O amor cura mesmo. E a vida que eu tenho hoje foi sempre a que quis ter e, se estou aqui, é porque tive muito amor a minha volta. Hoje sou muito mais feliz e grata a vida.
Carla Luz, Empresária em " Carla Luz Cabeleireiros"
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