Caçador de Fantasias
Sou um assassino de fantasias.
Um ponto final nas suas divagações. Uma catana para as suas asas. Veneno para os seus delírios.
Sinto-as. Visualizo-as. Persigo-as. Encontro-as. Vivo-as. Mato-as. E só não as escondo porque delas não sobra nada.
É vil, eu sei, mas foi assim que me fiz intenso.
Homem e escritor.
Incólume sedutor.
Na minha história não rezam fantasias por viver; não há, portanto, arrependimentos frígidos nem fardos de culpas ocas às costas.
Sou um bandido realizado.
Ainda que viva de coração inocente; boca faminta e pele sedenta.
Contraímos matrimónio muito cedo, logo depois de perceber que elas eram a personificação das minhas vontades, a louca vista que alcancei depois do medo.
Somos cúmplices, portanto, parceiros no crime.
Elas sabem que têm menos tempo que uma borboleta. Eu sei que, dificilmente, viveria sem elas.
Chegam a conhecer a vida, ainda que prefiram dar-se à morte.
Nas minhas mãos. Na minha boca. Pelo meu sexo.
As fantasias querem morrer porque desejam viver. E eu preciso matá-las para não morrer antes delas.
Nenhuma nasce a querer falecer de velha, abandonada e rejeitada pela escassez de arrepios.
Uma vida que não mate fantasias é um corredor da morte para ambas.
E, por isso, prefiro mil vezes ser apanhado e pagar com a própria pele do morrer intacto, mas vazio.
Na minha extensa lista de livros publicados, nunca me escondi do sexo.
É personagem cativa.
E cativante.
Às vezes, escandaloso; noutras, sublime.
Assim como na minha vida.
Em nenhuma linha se encontra, sequer, reminiscências de algo que não tenha vivido.
Não fantasio. Não acrescento. Não tiro. Não minto.
E é essa verdade que vem das entranhas de muitos momentos já vividos, essa energia cortante, imponente e suada, que leva quem me lê a estar comigo, a vibrar ao meu lado, a pular cercas e a suarmos juntos.
A literatura é a vida em palavras.
É um anzol, no teu lago de memórias.
Se uma fantasia perdida o morder ao ler, pesca-a e faz dela o teu jantar.
Não deixes que ela morra por falta de ar, esmaga-a com a tua pele contra a pele que a pariu em ti.
Cada um de nós é um livro a ser escrito.
E não há romance, ensaio nem, sequer, espiritualidade que viva sem óbitos registados de quimeras desejadas.
Age.
Vive e fá-las sangrar.
E que morras cheio de vida nas mãos.
Gustavo Santos, Escritor
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